Cristo Rei – Artigo do arcebispo publicado no Jornal Em Tempo

Neste domingo, o último do ano litúrgico, a Igreja celebra a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Neste dia se celebrava no passado a Ação Católica, que antes do Concílio representou a estratégia da Igreja para agir na sociedade que visivelmente deixava de se inspirar nas suas orientações e ganhava autonomia. Tratava-se de restaurar todas as coisas em Cristo, e sem dúvida alguma havia certa nostalgia da cristandade, regime em que Estado e Igreja se confundiam e a sociedade, hegemonicamente cristã e católica vivia organizada, ao menos no Ocidente, segundo valores e práticas cristãs.
O mundo seguiu o seu caminho, tornou-se plural, organizou-se de forma diferente e a festa de Cristo Rei ganhou novos contornos e significados. Hoje celebramos o encerramento do ano do laicato. Leigos e leigas são chamados a ser cidadãos e sujeitos eclesiais. Agindo e vivendo na comunidade eclesial com plenos direitos provindos do batismo, da crisma e da participação plena na Eucaristia, são chamados a assumir diversos ministérios que edificam e consolidam o Corpo de Cristo, sacramento do Reino de Deus no mundo.
Sujeitos eclesiais, os leigos e as leigas são cidadãos no sentido mais completo da palavra, isto é, são responsáveis pela construção da sociedade, devendo viver esta responsabilidade com toda liberdade. A cidadania é vivida de diversas maneiras, mas especialmente na política, que é a busca do poder para exercitá-lo em vista do bem comum. Sem poder não se pode transformar a realidade, e a ordem democrática é a forma encontrada de organizar e delimitar o poder para que ele não se torne opressor e corruptor. O poder sempre tem um fundo religioso que o inspira e justifica e mesmo quando ateu ou laico tem razões transcendentais que se não são religiosas são ideológicas.
Por isso é importante olhar para Cristo Rei. Para quem acredita, Jesus é o princípio e o fim de todas as coisas e tudo o que existe, existe por ele, nele e para ele. A realidade para o crente é Cristo, e todo poder pertence a ele. Como o Cristo exerceu este poder e com quem ele se identifica? O poder se manifestou na Cruz, isto é, na total ausência de poder neste mundo. Um poder que se exerce no serviço e na doação da vida, e cujo grande sinal foi o lava-pés. Um poderoso que é encontrado nos famintos, nos nus, nos estrangeiros, nos doentes e nos prisioneiros. Um poderoso que pede de seus seguidores a radicalidade da doação da vida expressa no carregar e assumir a cruz de cada dia.
O Reinado de Deus já chegou e está entre nós toda vez e em todo lugar que o poder é exercido, segundo a vontade de Deus que se expressou de forma definitiva na vida de Jesus de Nazaré constituído por Deus Senhor e Cristo quando o ressuscitou dos mortos. O último pedido da Escritura é: Vem Senhor Jesus. Que o Reino de Deus que é justiça e vida para todos se estabeleça o mais rápido possível. Existe um poder que cura, salva, renova, dá vida. Este poder pode e deve ser procurado por todos e uma vez encontrado não deve cair na tentação de ser usado para destruir o outro e perpetuar-se num egocentrismo diabólico.

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 25.11.2018

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