Homilia da solenidade da Imaculada Conceição recorda devoção mariana e clama pela superação da violência

Meus caros irmãos no episcopado,
Queridos diáconos e presbíteros,
Irmãos e irmãs da vida consagrada,
Vocacionados e vocacionadas à vida religiosa e ao sacerdócio,
Povo de Deus que se reuniu para fazer memória do amor do Pai que se manifesta na Imaculada Conceição de Maria,

Acabamos de percorrer as ruas do centro histórico de Manaus para declarar nosso amor e nossa devoção à Maria, à mãe de Jesus, concebida sem pecado; à Imaculada, nossa padroeira. Somos uma multidão que canta os seus louvores, reconhecendo nela a Mãe do seu Senhor, porque um só é o Senhor, que foi gerado, na plenitude dos tempos, no seio desta mulher por obra do Espírito Santo, segundo a vontade do Pai. Cantar as glórias de Maria é reconhecer a ação do Deus Trindade na história da humanidade. Humanidade redimida do pecado em que mergulhou quando desobedeceu ao seu Criador, cedendo aos encantos do mal.

Nossa Senhora é o primeiro fruto desta redenção que se deu em Cristo. Primeiro fruto da redenção e a primeira a ser evangelizada quando pelo anúncio do anjo lhe foi dado conhecer o mistério da encarnação. Tudo o que fora preparado pela humanidade, e que se resume na adoção filial dada por Deus e correspondida pelas pessoas vemos em Nossa Senhora. Ela é a cheia de graça, cheia de vida, redimida, bendita entre todas as mulheres. É maravilha das maravilhas. Deus quis precisar de seu sim para completar a sua obra. O sim de uma jovem certamente cheia de sonhos e de planos.

Contemplar Maria Imaculada é contemplar a humanidade querida por Deus. É possível ser santo, é possível ser livre, é possível viver sem corrupção, ser honesto. É possível viver em comunidade de fé e vida. O egoísmo, a maldade, a inveja, a violência tiraram o brilho da nossa identidade, que é sermos imagem e semelhança daquele que nos criou. A solenidade da Imaculada Conceição reforça nossa esperança em Cristo. Uma esperança que não nos decepciona e nos torna generosos, criativos e comprometidos com a vida. Estamos diante da nova Eva que, mesmo tendo o calcanhar ferido, esmaga a cabeça da serpente vencendo o mal pela obediência: Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. E por causa desta obediência, a Palavra se fez Carne e habitou entre nós.

Somos seus filhos e experimentamos sua proteção materna. Tantos pedidos, tantas Ave Marias na calada da noite, ou à luz do dia; num quarto de hospital, ou num barco em meio à tempestade; antes de uma prova na escola, ou com medo de uma doença desconhecida; em momentos felizes, ou em ocasiões tristes nossos lábios murmuraram “rogai por nós, pecadores!”. Mãe das Graças e do Perpétuo Socorro, ela sempre nos ouve e nesse ouvir atento já acontece o milagre. Não estamos sozinhos neste vale de lágrimas, temos uma companheira, um porto seguro onde atracar até que passe a tormenta. O dedilhar das contas do Rosário tem iluminado a vida de multidões.

Nossa Igreja é mariana, tem Cristo como cabeça e fundamento, mas está envolvida pelos sentimentos maternos e femininos que Maria traz no coração.

“Mãe Imaculada, volta o teu olhar para nós! Escuta nossos gemidos e vê nossos sofrimentos! Fazei-nos sentir tua proteção maternal nos momentos difíceis da nossa vida. Enche o nosso coração de esperança e faz nascer de novo a alegria nos nossos corações”. Esta é a nossa prece.

É a nossa prece de Igreja ferida pelo assassinato de um catequista. Era indígena. Foi barbaramente morto por um bando de covardes que e escondem no anonimato de grupos marginais, que se colocam como senhores da vida e decidem matar como ato corriqueiro para intimidar as pessoas e grupos de bem que não se curvam. Pensam fazer bonito matando inocentes. O que mostram é um espetáculo grotesco de imbecilidade e covardia. Semeiam o ódio no coração das pessoas. Não cederemos na nossa busca da paz. A vingança não é a solução. O Estado pode e tem condições de saber quem o matou, julgá-los e dar-lhes uma pena, não sem tentar reintegrá-lo na sociedade humana.

A violência é sintoma de uma sociedade doente, que necessita ser curada.  E a cura passa pelos  corações humanos. Quando todas as crianças que vem ao mundo forem recebidas como foi a Imaculada e tiverem todas um lar de verdade; quando todos tiverem moradia digna, escola de qualidade e possibilidade de lazer, emprego e liberdade de expressão, então poderemos esperar uma superação da violência. Não resolve armar a população e dar à polícia licença para matar, porque então morrerão os desprotegidos, os pobres, os excluídos do banquete.

Temos que mostrar nossa indignação e não só assistir o nosso país cair, vítima de uma guerra civil que não é nossa. No dia primeiro de janeiro, quando comemoramos a maternidade divina de Maria, vamos sair às ruas, em todas as paróquias, comunidades e igrejas para dizer que somos da paz, mas não somos covardes, e não nos escondamos mais.

Filhos da Imaculada Conceição, sejamos não violentos, mas firmes na defesa dos direitos  das pessoas. E o primeiro direito que o Estado deve garantir é o de ir e vir. Queremos o fim dos pedágios pagos pelos mais pobres para terem a proteção dos próprios bandidos que os ameaçam.

Que a Imaculada nos dê ânimo e coragem de viver e nunca perder a esperança.
Maria, a Rainha da Paz, nos ouça e venha em nosso auxílio!

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!

Por Dom Sergio Eduardo Castriani

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