A mãe de Jesus – Artigo publicado no Em Tempo – 13/10/2019

Neste domingo milhares de pessoas reúnem-se em Belém do Pará, e também em Manaus na paróquia que tem como padroeira Nossa Senhora de Nazaré. Um grande número de devotos  acompanham a imagem na procissão. Ontem, em todo o Brasil, multidões reuniram-se em procissões e concentrações para expressar carinho, devoção e confiança na proteção de Nossa Senhora Aparecida,venerando a pequena imagem que apareceu nas águas de um rio e que foi achada por pescadores que ganhavam o pão de cada dia.

Para os católicos, a devoção à Maria, a mãe de Jesus, é natural e não precisa ser explicada e nem justificada, muito embora haja longos tratados teológicos a respeito do assunto. Encontrar-se com Jesus é encontrar-se com sua mãe, nada mais natural. Se o mistério da encarnação é central no cristianismo, e é real e biológico, nada mais evidente que reconhecer a participação da mãe do Verbo encarnado no mistério da salvação e nada mais humano que recorrer a ela como auxílio e proteção.

Na história da Evangelização e da Missão, a piedade popular foi reconhecendo a presença de Maria na vida do povo, na vida das famílias e na vida da Igreja. Nas horas de aflição e nas horas de alegria, nos momentos festivos e de solidão as ave-marias rezadas com atenção ou despreocupadamente vão acompanhando a nossa história pessoal e comunitária. Maria é mãe e basta isto para ser importante e fundamental. Todos sabemos o que significa a figura materna nas nossas vidas. E sabem disto mais ainda aquelas que tem o privilégio de serem mães.

No entanto,nesta semana tão mariana e tão feminina em que tudo se tinge de rosa na luta contra o câncer que mais mata as mulheres, e inebriados pelo feminino que dá beleza e leveza as nossas vidas, sentimos vergonha de dois crimes praticados contra meninas. O primeiro em Manaus, o tio que abusou sexualmente da sobrinha,acabou por assassiná-la. O outro foi em São Paulo onde um menino de doze anos assassinou a coleguinha de nove. Apesar da lei Maria da Penha, a violência contra as mulheres aumentou.

É evidente que não se pode esperar milagres com a aprovação de uma lei. É preciso implementá-la e isto leva tempo. Mas tem um gosto amargo saber que a violência aumentou. É claro que as razões são muitas. Mas fica evidente que não basta aparelhar o Estado e seus poderes constituídos com leis, é preciso reformar o próprio Estado e suas instituições para que de fato sirvam o povo, que é a razão de sua existência.

Que a devoção a Maria, tão presente no nosso país, ajude-nos a construir uma nação pacífica e a sermos um povo não violento. Oxalá no futuro possamos nos orgulhar de sermos um povo onde as mulheres não sofram violência impunemente. Nas celebrações que participo este é o meu pedido à Mãe de Jesus. Que os corações sejam transformados e que a violência cesse. E que quando a violência acontecer a justiça seja restaurada eque aos violentos não seja permitido agir sem que se preste contas à sociedade e que o Estado brasileiro esteja de fato, e não só de direito, a serviço dos mais vulneráveis, no caso, as mulheres.

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 13.10.2019

Gostou? Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on telegram
Telegram

Comentários