São Gabriel da Cachoeira

Neste domingo, os bispos do Regional Norte I da Conferência dos Bispos do Brasil estão terminando seu encontro anual. No mês de setembro sempre se realiza a Assembleia com a participação dos coordenadores de pastoral das dioceses e prelazias. Em fevereiro o encontro é reservado aos bispos. Este ano todos os do Amazonas, menos o de Lábrea e o de Humaitá, que pertencem ao Regional Noroeste, junto com os de Rondônia e do Acre, estão em São Gabriel da Cachoeira. É um momento forte de comunhão pois eles representam o Povo de Deus espalhado nesta imensa região, única na sua beleza e grandeza, mas também nos desafios que apresenta para a evangelização.

O local onde se realiza o encontro já dá a dimensão da missão na Amazônia. Chegar até lá é uma aventura que pode ser feita de barco em vários dias de viagem, numa lancha rápida que exigirá horas e horas ou três horas de voo sobre a floresta. No ano passado, o encontro foi desmarcado porque na última hora os voos mudaram de dia e horário. Esta, no entanto, é a vida dos missionários e missionárias; longas distâncias, dias e dias de viagem para visitar as comunidades ribeirinhas ao longo dos rios e na beira dos lagos e igarapés. Ir até São Gabriel é refazer o caminho da missão que é sempre um sair de si mesmo, do seu lugar, da sua terra, da sua zona de conforto e partir em direção ao outro. Reverenciamos os missionários e missionárias de todos os tempos e nos admiramos de sua coragem e fé. A missão continua e ainda hoje somos convidados e enviados para ir além fronteiras.

Ali os bispos encontraram uma população indígena importante. É visível a realidade dos povos originários desta terra. Diversas etnias convivem na região sendo sinal de um Brasil possível, onde os pobres e os pequenos sejam respeitados e as diferentes culturas sobrevivam e não sejam engolidas pela cultura dominante. As diversas línguas faladas na cidade revelam a riqueza das culturas. Já faz tempo que a Igreja Católica, ao menos a sua hierarquia, através da CNBB tem se posicionado a favor dos direitos dos povos indígenas, que começam pela demarcação de suas terras.

Infelizmente os pastores também ouviram os relatos de trabalho escravo, de tráfico de drogas e de armas e até de pessoas e constataram que como em outras partes há uma ausência do Estado nacional, às vezes presente só através do Exército que guarda as fronteiras. Os bispos sem dúvida falaram da formação do clero local e da necessidade de ter leigos e leigas bem formados que possam ser sujeitos ativos na sociedade e na Igreja. Mas, o mais importante é que puderam celebrar a presença do ressuscitado na Amazônia. É Jesus que caminha à frente das comunidades e derramando o Espírito, fazendo delas testemunhas do Reino que já está entre nós.

O próprio fato de ir a São Gabriel é sinal de que a História da Salvação tem uma lógica diferente. Ela está acontecendo entre os pequenos e excluídos pela distância, pela pobreza, pelas diferenças culturais. O regional não será o mesmo depois deste encontro. Como os magos, depois de verem Jesus, voltarão por outro caminho.

ARTIGO DE D. SÉRGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 12.02.2017

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