Com o tema “Responsabilidade da Igreja local pela Missão Universal”, Dom Esmeraldo Barreto de Farias, Bispo da Diocese de Araçuaí (MG), foi o terceiro conferencista do 5º Congresso Missionário Nacional. Ele iniciou sua fala afirmando que o Espírito Santo é quem fecunda as ações e Deus permite realizá-las.
Dom Esmeraldo destacou que com o Concílio Vaticano II, ficou evidente que o dinamismo missionário é da natureza da igreja e todos são chamados a serem discípulos missionários de Jesus Cristo. Porém, tem-se visto muita resistência o que tem reduzido a missão a grupos ou pessoas determinadas ou mesmo a uma atividade pastoral esporádica. Dom Esmeraldo afirmou ainda que “uma nova ação evangelizadora é possível a partir de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, que se identifica com as periferias e com os pobres e sempre toma a iniciativa de ir ao encontro das pessoas, das famílias e das comunidades”.

Apresentou alguns aspectos sobre o caráter trinitário da missão, visto que ela tem sua origem no Deus-Trindade, no amor de Deus que se revela à humanidade em Jesus Cristo. Também há o ponto de que a igreja existe para evangelizar e colaborar para que o amor de Deus se expanda e transborde, alcançando todos que acolhem este amor com gratuidade e generosidade. “Pelo batismo, somos inseridos nessa dinâmica do amor trinitário através do encontro com Jesus Cristo que sempre toma a iniciativa de encontrar-nos e de dar um novo horizonte à nossa vida, vida em plenitude” (DAP 12)
Continuou afirmando que “assumir o seguimento a Jesus implica amor aos pobres, considerar as periferias e suas realidades humanas, que são, quase sempre, tratadas como descartáveis, pois sua dignidade é ignorada, mesmo que existam leis de garantia e de proteção” , enfatizando que a missão é o amor de Deus que transborda no fala e no agir, atingindo a todos que estão ao redor.
Dom Esmeraldo também fez provocações sobre como devem ser as atitudes diante das periferias existências, sociais e geográficas; como promover o protagonismo dos sujeitos e ser presença missionária nos diversos lugares, com as variadas situações de dor e pobreza de nossos irmãos nas periferias; escuta o clamor das periferias para então manifestar o amor recebido de Deus. Enfatizou a necessidade de se ter o fruto concreto do amor trinitário que impulsiona para as periferias, tendo como exemplo o trabalho de Madre Teresa com os pobres, recordando uma frase que ela disse em uma entrevista: “Doar-se é amar até doer”
Em suas palavras, Dom Esmeraldo afirmou que o Concílio Vaticano II contribuiu para que a concepção de missão ganhasse amplitude de sentido e alcance, com destaque para as palavras de Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, que diz: “Não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão” (GE 27)
Ao abordar o “Ad Gentes” enquanto responsabilidade e abertura da Igreja Local à missão sem fronteiras, destacou o Documento de Aparecida (376) que diz: “a missão ad gentes implica na necessária saída das Igrejas locais de suas próprias fronteiras socioculturais para participar da missão mundial e não cair na armadilha da autorreferencialidade”.
Também citou o Papa João Paulo II que falou à igreja sobre o perigo de fechar-se em si mesma e assim tornar-se incompleta ou enferma:
“Uma Igreja particular que não seja missionária não é plenamente católica. Com efeito, sendo toda a Igreja missionária, devem sê-lo do mesmo modo as Igrejas particulares: Elas são formadas à imagem da Igreja universal. É nelas, e a partir delas, que existe a Igreja uma e única. Uma Igreja fechada em si mesma, sem abertura missionária, é uma Igreja incompleta ou uma Igreja enferma”
Mensagem do Papa João Paulo II para o Dia Mundial das Missões – 1981
E finalizou com a mensagem do Papa Francisco durante o vídeo da intenção de oração para o mês de outubro deste ano:
“A missão está no coração da Igreja. E mais ainda. Quando uma Igreja está em sínodo, somente essa dinâmica sinodal é que a faz levar adiante a vocação missionária. Quer dizer, a resposta ao mandato de Jesus de anunciar o Evangelho. Aqui não se acaba nada, mas continua um caminho eclesial. Trata-se de um caminho que percorremos como os discípulos de Emaús, escutando o senhor que sempre sai ao nosso encontro. É o senhor da surpresa. Através da oração e do discernimento, o Espírito Santo nos ajuda a realizar o ‘apostolado do ouvido’, ou seja, escutar com os ouvidos de Deus para poder falar com a palavra de Deus. E assim nos aproximarmos do coração de Cristo, do qual brota nossa missão, e da voz que atrai para Ele. Uma voz que nos revela o centro da missão, que é chegar a todos, acolher a todos, envolver a todos, sem excluir ninguém. Rezemos pela Igreja, para que adote a escuta e o diálogo como estilo de vida em todos os níveis, deixando-se guiar pela força do Espírito Santo em direção às periferias do mundo”
Papa Francisco – outubro 2023