Ser outro de nós mesmos – artigo Cardeal Steiner

“Nem tudo o que um santo diz é plenamente fiel ao Evangelho, nem tudo o que faz é autêntico ou perfeito. O que devemos contemplar é o conjunto da sua vida, o seu caminho inteiro de santificação, aquela figura que reflete algo de Jesus Cristo e que sobressai quando se consegue compor o sentido da totalidade da sua pessoa” (Papa Francisco, C’est la confiance, n º 51).

Por ocasião do 150º aniversário do nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, Papa Francisco entregou uma Exortação Apostólica, sobre a confiança e o amor misericordiosos de Deus.

Santo em hebraico, é kadosh. Kadosh significa algo sagrado, ou um indivíduo consagrado; é o outro. Ser outro do que se é, assemelhar-se ao Santo, Deus. No ser outro deixa-se transformar e chegar à maturidade, à completude de uma vida. Santidade o caminho que Jesus apresenta para chegar viver em plenitude.

Às vezes esquecemos que cada pessoa humana tem uma missão. Toda a pessoa é chamada a uma vida digna, justa, generosa, fraterna. Quem segue a Jesus recebe a graça de viver de modo único. Poderíamos dizer que ser santa, ser santo, é uma missão, pois visibiliza, encarna, reflete, num momento determinado da história, um aspecto do Evangelho.

Papa Francisco recorda alguns traços do caminho percorrido por Santa Teresinha, despertando-nos para a santidade. “Num tempo que nos convida a fechar-nos nos próprios interesses, Teresinha mostra a beleza de fazer da vida um dom. Num período em que prevalecem as necessidades mais superficiais, ela é testemunha da radicalidade evangélica. Numa época de individualismo, ela faz-nos descobrir o valor do amor que se torna intercessão. Num momento em que o ser humano vive obcecado pela grandeza e por novas formas de poder, ela aponta a via da pequenez. Num tempo em que se descartam tantos seres humanos, ela ensina-nos a beleza do cuidado, do ocupar-se do outro. Num momento de complexidade, ela pode ajudar-nos a redescobrir a simplicidade, o primado absoluto do amor, da confiança e do abandono, superando uma lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e preceitos e congela a alegria do Evangelho” (C’est la confiance, nº 52). O modo de vida da santidade é o da liberdade, da simplicidade, da gratuidade!

Ao celebrarmos a todos os santos, somos despertados para a grandeza e beleza da vida do Evangelho. Somos provocados a viver na santidade: a nossa vida, no seu dia a dia, possa refletir algo de Jesus Cristo e, na totalidade de nossa pessoa, a bondade e a verdade.

No Dia de Finados, recordamos os nossos falecidos. Participamos de suas vidas, do seu caminhar. Com muitos percorremos o caminho do Evangelho nas famílias e comunidades. Rezamos pelos irmãos e irmãs que tivemos a graça de servir. Recordamos também as irmãs e os irmãos que morreram sozinhos abandonados. Todos possam participar da celebração eterna na intimidade amorosa do Pai, do Filho e dos Espírito Santo. Façamos um visita ao lugar onde depositamos o corpo.

Ao contemplarmos o conjunto da vida, o caminho inteiro de santificação, a figura que reflete algo de Jesus Cristo, percebemos que sobressai o sentido da totalidade da vida do irmão, da irmã. Deus nos conceda a graça de vivermos na verdade, na justiça, na solidariedade, no amor gratuito, para sermos outro de nós mesmos!

Cardeal Leonardo Steiner

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