Seminário de Ecoteologia: um casamento feliz da fé cristã com a Ecologia

Organizado pela Faculdade Católica do Amazonas, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), a Arquidiocese de Manaus, a Comissão Episcopal para a Amazônia e o Regional Norte1, acontece no Centro de Treinamento de Lideranças da Arquidiocese de Manaus (Maromba), de 13 a 15 de setembro de 2023, o Seminário de Ecoteologia. Um encontro que começou refletindo sobre “Ecoteologia, Experiências e Práticas Ecológicas da Vida Pastoral: diagnóstico e aprofundamento”.

Na Igreja católica, “vai crescendo a percepção da necessidade de refletir teologicamente sobre o meio ambiente e de incluir em nossa evangelização o meio ambiente”, segundo o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1. Ele destacou que “a importância está em tentarmos refletir teologicamente a questão do meio ambiente”. O arcebispo insistiu em que “a ecologia pode ser um discurso ético, de cuidado, mas também pode ser um discurso sistémico, de equilíbrio da terra”.

Dom Leonardo recordou a visão que surgiu na Idade Média de todos os seres como um bem que se difunde, fazendo um chamado a resgatar o logos presente em todas as criaturas, as sementes do Verbo em todas as criaturas. Segundo o cardeal, temos muito a aprender com os povos originários e de seu modo de convivência. Se faz necessário entender o logos como relação com as criaturas, o que deve levar a pensar na relação que se estabelece entre nós e com as criaturas.

O cardeal franciscano lembrou que o Cântico das Criaturas de São Francisco surgiu depois de uma noite de crise em que depois de reconhecer a presença misericordiosa de Deus descobre que todo está interligado. Nessa perspectiva, o presidente do Regional Norte1 destacou que o logos pede de nós em primeiro lugar uma admiração, afirmando que se o discurso teológico parte de uma admiração traz outra perspectiva. É por isso que não podemos ter medo de fazer uma outra reflexão a partir do pensamento do Papa Francisco.

A Ecoteologia é vista pelo Ir. Afonso Murad como “um casamento feliz da fé cristã com a ecologia”. O religioso Marista, um dos maiores especialistas nesse campo teológico no Brasil, insistiu na necessidade de uma interação com a natureza, um aspecto relevante numa sociedade cada vez mais urbana, onde se fazem presentes aqueles que ele denominou “analfabetos ecológicos”. Murad falou dos três igarapés da Ecologia: Ciência, um novo modo de ver o mundo (paradigma), e práticas de cuidado com a casa comum, afirmando que a ecoteologia está ligada à questão das políticas públicas.

Segundo o religioso Marista, a Teologia é o “exercício de pensar, refletir sobre a nossa fé e tudo o que está ligada com ela, e pensar sobre a nossa vida com a luz da fé”. Ele estabeleceu três degraus da Teologia: Teologia do dia a dia, iniciação à teologia ou teologia na pastoral, teologia acadêmica. Murad insistiu em usar uma linguagem que as pessoas entendem, incentivar a formação do laicato, e mostrou o desafio constante de uma comunicação entre as três, uma aprender da outra.

“Nós povos indígenas temos muito a contribuir com essa reflexão, cada um desde os conhecimentos de seu povo”, afirmou o padre Justino Sarmento Rezende, salesiano do povo tuyuka. Segundo o doutor em antropologia, “ser sacerdote, religioso, nos leva para muito longe e não permite voltar às nossas origens. É importante retornar, voltar com outro olhar que a vida religiosa, sacerdotal proporcionou para você”.

Partindo da concepção xamânica do mundo, própria dos povos originários, ele apresentou a cosmovisão dos povos do Alto Rio Negro, região onde o salesiano nasceu, que diz que o mundo está organizado em três níveis: Bupoamahsã (gente trovão), mahsã (pessoas) – yukumasã (gente floresta), e waimahsã (gente peixe). O padre Justino insistiu na ligação entre a vida dos povos indígenas e a vida cósmica.

Ele fez um chamado a “amazonizar nossa cabeça”, lembrando as palavras do Papa Francisco durante o Sínodo para a Amazônia, fazendo ver aos povos da Amazônia que “precisam visibilizar o que vocês fazem lá”. É por isso que o salesiano indígena convidou a mergulhar na espiritualidade dos povos indígenas. Analisando as cosmovisões indígenas, ele falou do conceito de caminhos, em diferentes níveis, mas todos interligados, e da cosmovivência dos povos amazônicos como elemento que vai contribuir para a reflexão da Ecoteologia.

Por Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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