Cardeal Steiner: “Jesus deseja curar a nossa cegueira, libertar-nos e fazer-nos viver na Luz”

Na homilia do 4º Domingo da Quaresma, Dom Leonardo Steiner começou mostrando “Jesus, a luz do mundo, concedendo olhos ao homem que cego nascera. A luz dos olhos da alma, olhos do coração”. O Arcebispo de Manaus destacou que “o cego de nascença, não sabe o que é a luz. Não conheceu a luz. E muitos achavam que a não vista de nascença era herança de pecado. Mas, nem ele, nem seus pais tinham culpa. O não receber a luz nos olhos não era motivo de culpa, mas para a manifestação de Jesus a luz do mundo! Mas ali está ele, sentado, pedindo, esmolando. O seu destino parece ser de não ver a luz”.

Ao elo do texto, o Cardeal Steiner disse que “Jesus passa e vê o cego. Percebe a sua necessidade: ver. Ele a perceber sempre as necessidades das pessoas, especialmente dos mais necessitados. Ele deseja mais que dar olhos, deseja dar-lhe nova vida, um modo de vida, deseja iluminar a sua vida. Que a vida seja luminosa. Até nos lembramos das palavras do profeta Isaias afirmando que um dia chegará a Israel alguém que gritará aos cativos: saí e aos que estão nas trevas: vinde à luz”.

Sobre o fato de Jesus fazer barro, Dom Leonardo lembrou seu significado na Bíblia, também da saliva, destacando que “Jesus passa nos olhos do cego a mistura do barro e saliva infundindo-lhe sua força vital. Ele juntou ao barro, à fraqueza humana a sua própria força e energia vital, gestando aquele homem para a luz. A missão de Jesus é recriar o Homem Novo, animado pelo Espírito”.

Dom Leonardo insistiu em que “a cura não é automática. O cego deve percorrer o caminho dos olhos, da força vital, da luz! Vai lavar-te nas águas de Siloé. Siloé que significa enviado. Ele é enviado, deve percorrer o caminho do envio para chegar à luz! Aceita o envio e vai lavar os olhos, limpar seu olhar e começa a ver. Vê, mas não vê. Vê pessoas, vê animais, vê árvores, vê movimentos, quase tudo vê. Mais ainda não vê. Não viu aquele que lhe dera olhos, lhe concedera a luz”.

O Arcebispo de Manaus lembrou que “quando as pessoas lhe perguntam quem o curou, não sabe dizer, não sabe identificar, apenas sabe dos olhos que recebera. Não saber onde ele está. Só sabe que, graças a este homem pode ver e para ele era isso que importava”. Junto com isso, que “os vizinhos e conhecidos do cego estão incrédulos que o cego dependente e inválido, foi transformado em homem livre e independente. Ele se move livremente, não mais depende dos outros. Eles mesmos não percebem a necessidade de olhos, de chegar à luz da Luz”.

Se referindo aos fariseus, Dom Leonardo afirmou que “não conseguem aceitar que o cego tenha vindo à Luz. Suspeitam do milagre, da possibilidade de receber a verdadeira luz. Opõem-se decididamente à luz que Jesus oferece e não aceitam que alguém queira sair da escravidão para a liberdade. Quando constatam que o homem curado por Jesus não está disposto a voltar atrás e a negar a sua nova visão, expulsam-no da sinagoga. A sinagoga era o local do encontro da comunidade israelita; mas designava, também, o próprio Povo de Deus. Ser expulso da sinagoga significava perder os pontos de referência comunitários, o cair na solidão, no ridículo, no descrédito e na marginalidade”.

Sobre os pais, “eles testemunham que era cego e agora vê. Afirmam que o filho nasceu cego e agora vê. O próprio filho deve dar testemunho da transformação ocorrida, pois era maior de idade. Ele mesmo deveria dizer o que ocorrera”, segundo Dom Leonardo.

“O Evangelho com simplicidade, mas de uma forma atraente e progressiva vai indicando o caminho da luz: transformação, do vir à luz. Nos momentos imediatos à cura, ele não tem grandes certezas. Quando lhe perguntam por Jesus, responde: ‘não sei’; e quando lhe perguntam quem é Jesus, ele responde: ‘é um profeta’. Por enxergar, por ter recebido luz na sua vida vai amadurecendo progressivamente. Confrontado e intimado a renegar a luz e a liberdade recebidas, ele cresce e amadurece, torna-se o homem de certezas, das convicções. Argumenta com agilidade e inteligência, joga com a ironia, recusa-se a regressar à escravidão: mostra ser adulto, maduro, livre, sem medo. Recebera a luz que devagar o vai iluminando”, destacou Dom Leonardo.

Seguindo a passagem do Evangelho, o Cardeal Steiner afirmou que “Jesus ao saber que fora expulso, colocado excluído da comunidade se comove. Vai procurá-lo. Jesus procura sempre! Procurou e encontrou o cego, agora excluído da sua religião. Ele vai ao encontro para ofertar os verdadeiros olhos, a verdadeira luz. Ele vai ao encontro do curado, como buscara as mulheres e os homens que não eram acolhidos pela religião: leprosos, publicanos, pecadores. Jesus não abandona quem o busca e o ama, mesmo que tenha sido excluído”.

“Diante de Jesus o homem que recebe olhos não o reconhece, pois ainda não enxergava; via, mas não via”, algo que aparece nas perguntas de Jesus “Crês no filho do homem? Quem é Ele, Senhor, para que eu creia nele? Tu o estas vendo: é aquele que fala contigo, é esse”. De fato, lembra o Cardeal, “via, mas não via, tudo via, mas ainda não via o Filho do Homem, o Filho de Deus. É que os olhos da alma, do coração continuavam coberto. Ainda não recebera a verdadeira Luz. O seu coração continuava coberto como nos diz Santo Agostinho. A Luz o iluminara, o deixava ver, mas a Luz ele ainda não tinha visto. Mas agora descoberto, desvelado, iluminado, exclama: ‘Eu creio, Senhor. E prostrou-se diante de Jesus’”.

“Não fomos feitos para viver na escuridão, irmãos e irmãs. Não são os olhos do corpo que Jesus deseja iluminar, os olhos que nos deseja ofertar. Jesus a nossa luz a nos conceder olhos. Temos medo de caminhar no meio das trevas, no escuro. E, no entanto, a vida se apresenta, às vezes, como um caminho que devemos percorrer às apalpadelas. Jesus a recordar a nossa finitude, o barro de que fomos feitos, mas deseja infundir em nós despertar em nós a graça do sopro divino que nos vivifica e fortalece. Esse Espírito que nos guia e ilumina. Percebemos a presença de Deus na nossa vida. O mistério do amor de Deus a nos conduzir também quando se faz noite!”, segundo Dom Leonardo.

Ele insistiu em que “Jesus deseja curar a nossa cegueira, libertar-nos e fazer-nos viver na Luz. Viver na liberdade, estar a caminho da vida em plenitude. É nos dado reverentemente repetir as palavras do curado do Evangelho: ‘Eu creio, Senhor’. Novos olhos, libertação do egoísmo e do pecado, e entrar na dinâmica da luz que é Jesus”, citando a Pagola.

Refletindo sobre a Campanha da Fraternidade, ele insistiu em que “Somos convidados por Jesus a buscar olhos que deixam ver os que estão à beira do caminho e oferecer-lhes olhos, a luz para ver”. Ele lembrou das palavras do Pontifico Conselho Cor Unum, que diz que “a fome ameaça não só a vida das pessoas, mas também a sua dignidade. Uma carência grave e prolongada de alimentação provoca a debilidade do organismo, a apatia, a perda do sentido social, a indiferença e, por vezes a hostilidade em relação aos mais frágeis: em particular as crianças e idosos”. Dom Leonardo lembrou que “nós tocamos e nossos olhos viram as consequências da fome em relação ao povo Yanomami”, denunciando que “é insuportável ouvir que um povo já não deseja mais viver e que perdeu o espírito. É que a fome desestabiliza e desestrutura até a psique humana. A fome destrói as últimas forças, os últimos desejos, a alma. Perde-se a humanidade, instala-se uma aporofobia”.

Lembrando a compaixão de Jesus para com que tem fome, e como Ele envolve os discípulos para resolver o problema, Dom Leonardo disse que “o cego deixou-se iluminar tocar pela luz que é Jesus. Recebe os olhos, para depois receber os olhos da fé. Ele adere incondicionalmente a Jesus, a luz, e à sua proposta libertadora e iluminadora”. Por isso, ele fez ver que “a Palavra de Deus a nos convidar, no tempo de Quaresma, a um processo de renovação, deixarmos brilhar em nós a luz que Jesus. Que nossos olhos iluminados por Jesus encontrem os que passam fome e encontrem o pouco para partilhar com muitos. Nosso caminho pascal nos faça pessoas novas, que vivem na luz e que dão testemunho da luz”.

Finalmente, diante da compaixão de Jesus para com quem tem fome, o Cardeal pediu que “o Espírito Santo nos inspire o sonho de um mundo novo, de diálogo, justiça, igualdade e paz. Nos anime a promover uma sociedade solidária, fraterna, sem fome, pobreza, violência”. E junto com isso, que “Deus nos conceda a graça de viver na Luz e iluminar a vida dos irmãos e irmãs com o pão que sacia a fome, e com o Pão da vida eterna!”.

Colaboração: Pe. Luis Miguel Modino

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