Na caminhada quaresmal, a Campanha da Fraternidade, é a busca de conversão e mudança de estruturas injustas que levam irmãos e irmãs a passar fome. A realidade que está sendo abordada, refletida, discutida, rezada é a fraternidade e fome. O texto bíblico “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14.16), ajuda a aprofundar e a compreender essa realidade que é apresentada como necessidade de transformação. Os seguidores e seguidoras de Jesus formam a Igreja, a fraternidade, nascida da morte e ressurreição de Jesus. Numa casa, numa família, numa fraternidade ninguém é deixado de lado, ninguém é excluído. Todos participam da mesa da partilha, da solidariedade, do pão, da mesa do amor!
Se irmãos e irmãs passam fome é porque a fraternidade é superficial, frágil. Se pessoas passam fome, é porque as estruturas econômicas e sociais necessitam de profunda mudança, para que a fraternidade expresse o conviver humano e eclesial. Onde existe fome, falta fraternidade, onde há fraternidade e partilha, experimenta-se o cuidado, a vida, a maturação de vida. É urgente a necessidade de políticas públicas que assegurem uma vida digna e justa; uma vida que tenha os espaços de lazer garantidos, onde os pobres tenham atendimento à saúde adequado, onde a educação seja uma possibilidade para todos, onde a cultura continua a ser expressão de modos de vida.
Papa Francisco alertou e vale a pena recordar: “Produzimos comida suficiente para todas as pessoas, mas muitas ficam sem o pão de cada dia. Isso ‘constitui um verdadeiro escândalo’, um crime que viola direitos humanos básicos (…). É dever de todos extirpar esta injustiça através de ações concretas e boas práticas, e através de políticas locais e internacionais ousadas”. (26/06/2021)
É bom insistir, reafirmar em alto e bom som sempre, que são descartadas todos os dias toneladas de alimentos. A fome não existe por falta de alimentos. A paralisia e a indiferença, bloqueiam a fraternidade. A solidariedade, a partilha, o cuidado, eleva, dignifica, supera, possibilita a expansão do amor. Unir-se aos irmãos e irmãs que saem ao encontro dos que passam necessidades. Fazer parte da rede de solidariedade, da caridade. Unir-se à Caritas Arquidiocesana e visibilizar a vida do Reino.
Lembrar que “aqueles que sofrem a miséria não são diferentes de nós. Têm a mesma carne e sangue que nós. Por isso, merecem que uma mão amiga os socorra e ajude, de modo que ninguém seja deixado para trás e, no nosso mundo, a fraternidade tenha direito de cidadania” (Papa Francisco, Dia Mundial da Alimentação, 2018)
A percepção pessoal e comunitária, sempre mais nítida e clarificada, ressoe nas estruturas paroquiais e das áreas missionárias, mas também repercuta nos órgãos de governo federal, estadual e municipal, e também em todas as entidades da sociedade civil, a fim de que, um serviço de todos, possa extirpar o flagelo da fome. “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).
Cardeal Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus