“Vós ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo! Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos”. O Evangelho provoca a ser irmãos, irmãs de todos. Nada de inimigos, pois todos são filhas e filhos de Deus. Um pertencimento, pois geração de Deus. Em Cristo todos feitos geração de Deus. Gerados pelo amor que é Deus, salvos no amor que é o Crucificado-Ressuscitado. Amarás e não odiarás!
Santo Agostinho, ao ensinar o amor pelos inimigos, diz: “Ao amar o teu inimigo, desejas que ele seja para ti um irmão. Não amas o que ele é, mas aquilo em que queres que ele se torne. (…) Não amas nesse homem aquilo que ele é, mas aquilo que queres que ele venha a ser. Assim, quando amas um inimigo, amas nele um irmão” (Comentário sobre I João, 8,10).
Todos convidados no amor a ter uma percepção mais real e profunda de cada irmão, de cada irmã. Em Cristo não há inimigos, sempre irmãos e irmãs a caminho. Em nossos dias estamos sempre mais com ares, pensamento e palavras próprias de inimigos que de irmãos. As ideologias, as opções políticas têm levado a atitudes, ações e palavras de inimigos que expressam o desejo de viver na distância, separados e, às vezes, até mortos. E o Evangelho a abrir os olhos, a tocar a verdade do existir: ser irmãos. O que se está a perceber: o ser irmãs e irmãos, vai tomando distância. Assim mesmo que afirmar-se cristão, católico.
Discípulos de Cristo, chamados cristãos, é um caminho: Amados por Deus, ser chamados a amar; perdoados, a perdoar; tocados pelo amor, a dar amor sem esperar que comecem os outros. Jesus diz: “Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos”. São palavras pensadas, sopesadas, palavras precisas. Amar os inimigos e orar pelos que perseguem, é a novidade cristã, a especificidade de quem deseja seguir a Jesus. O próprio, o único, o imprescindível, o essencial, de um cristão está no amar. Amar aqueles que se propõem como inimigos, mas tê-los como irmãos, pois Pai do céu é o mesmo. Não só amar os amigos, os da família. Para o cristão não existem inimigos, pois o seu amor não conhece fronteiras, nem barreiras. Se existe um extremismo é o extremismo do amor. O único extremismo cristão lícito: o extremismo do amor. (cf. Papa Francisco, Bari, 23/02/2020)
“Então, sim, ao amares teu inimigo, estás a amar um irmão. É esse o motivo por que o amor ao inimigo é a perfeição da caridade, já que a caridade perfeita consiste no amor aos irmãos. Ama e fazes o que quiseres. (…) É preciso amar o homem e não o seu erro. O homem é obra de Deus, o erro é obra do homem. Ama a obra de Deus e purifica as obras do homem. Se existe o inimigo é porque existe o erro. Retira o erro e em vez de enxergares um inimigo, contemplarás um irmão.” (Santo Agostinho, Comentário sobre I João)
Para Deus não existem inimigos, mas filhos e filhas. “Ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos”. Ser filhas e filhos do Pai que está nos céus, no amar os inimigos e rezar por aqueles que perseguem!
Cardeal Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus
Artigo publicado no jornal Em Tempo 1
