Epifania expressa o movimento de Deus que, irrompendo do alto de sua grandeza, glória e majestade, se humilha, se apequena a fim de ingressar no horizonte e na história dos homens, tornando-se, assim, a estrela dos passos e o sentido da vida.
Na Epifania vemos o mover dos homens vindos do oriente. Não andavam a esmo, sem direção. Na perscrutação dos céus foram encontrados por um sinal e deixaram-se guiar pela Estrela: “Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. Adorar era a razão da busca, o objetivo do percurso, a meta do seu caminho. Adorar, Aquele que acaba de nascer. Assim, chegados a Belém, quando “viram o Menino com Maria, sua mãe, prostrando-se, o adoraram” (2,11). Os do oriente e do ocidente, toda humanidade, toda a criação, em adoração!
Epifania, o encontro da humanidade, de todos os povos com a criança de Belém, com o Recém-nascido, com o Deus menino. Todos viram o Deus-Menino. Deus-nascido se manifestou aos judeus quando anunciado pelos anjos aos pastores. Eles, os primeiros a ver, a tocar e serem tocados pela presença inaudita de Deus no Menino de Belém. O Deus-nascido deixou-se encontrar pelos homens vindos do Oriente, e manifestou-se a todos os povos e nações. Guiados por uma estrela que lhes apareceu, se puseram a caminho para encontrar aquele que acabara de nascer: o Menino Jesus.
Epifania recorda a figura de Herodes que se amedronta diante da pergunta dos homens do Oriente. Ele entra em pânico, pois o Recém-nascido pode ser um concorrente e adversário. Ao ouvir a pergunta dos “procurantes”, se perturba, consulta e simula adoração. Ele não percebe que toda a Judéia, todo o império romano era pequeno demais, um poderio sem poder, para que o Menino pudesse causar medo. O Menino não veio disputar reinos, veio oferecer um novo reino, o Reino de Deus. O Verdadeiro Reino: um reino eterno e universal, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz” (Prefácio, Cristo Rei).
Vemos, na distância do tempo, que os impérios caem e permanece a inocência, a presença frágil de Deus em nossa humanidade a continuar a erguer o Reino de Deus. O Reino da fraternidade, do consolo, da verdade e da graça.
Inquieta, admira e consola que a Estrela desapareça quando os pastores do Oriente entram no espaço do poder, da dominação, do apego, do medo. Era justamente ali que havia necessidade da estrela para guiar, iluminar, mas ela desaparece. A estrela se apagou! Ao saírem do espaço do poder, da disputa, da desconfiança, ela se manifesta e os conduz para o lugar do nascer e repousar do Infante Deus. Para Belém que a estrela os conduz. Ao entrarem “na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram.” Ao Infante, o sem fala, mas fala e tudo diz com sua presença, abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro incenso e mirra”.
Orígenes, o grande catequista da Igreja escreveu: “Ouro para um rei; incenso para Deus; e mirra para um mortal” (Contra Celso 1.60). As preciosidades ofertadas ao pobre, despojado, cândido. É que há na criança, no Recém-nascido uma grandeza, uma realeza, uma dignidade em nossa humanidade. É Epifania! Deus-menino nada tenho que seja digno de ti; mas peço: Tu oriente, orientação, direção de nosso ocidente esquecido, razão de nossas vidas fica conosco hoje e sempre. Amém.
Cardeal Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus
*Publicado – Jornal Em Tempo 7 e 8 de janeiro de 2023