Reitor do Seminário São José participa de lançamento do Programa Universitário Amazônico em Quinto

Na ocasião, Pe. Zenildo Lima partilhou a sua experiência de ser reitor de um seminário maior interdiocesano na Amazônia, que recebe seminaristas indígenas, junto a outros jovens, uma realidade característica na Pan-Amazônia.

LANÇADO EM QUITO O PROGRAMA UNIVERSITÁRIO AMAZÔNICO – PUAM
Um passo importante para concretizar as propostas do Sínodo e os sonhos de Francisco

Durante os dias 24, 25 e 26 de agosto passado, aconteceu na cidade de Quito, capital do Equador, um encontro promovido pela Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) para lançar e consolidar um programa voltado para a concretização das propostas aprovadas no Documento Final do Sínodo sobre a Amazônia, reforçadas posteriormente pela exortação “Querida Amazônia”, do Papa Francisco. Coordenado pelo vice-presidente da CEAMA, Maurício Lopez, o encontro buscou retomar o tema das “universidades e novas estruturas sinodais amazônicas”, a partir o texto aprovado por uma expressiva maioria pelos padres sinodais:

Propomos a criação de uma Universidade Católica Amazônica que tenha como base pesquisas interdisciplinares (incluindo estudos de campo), inculturação e diálogo intercultural; que a teologia inculturada inclua formação conjunta para ministérios leigos e formação de sacerdotes, baseada principalmente na Sagrada Escritura. As atividades de pesquisa, educação e extensão devem incluir programas de estudos ambientais (conhecimento teórico baseado na sabedoria dos povos que vivem na região amazônica) e estudos étnicos (descrição das diferentes línguas, etc.). A formação de professores, o ensino e a produção de materiais didáticos inculturados devem respeitar os costumes e as tradições dos povos indígenas, e realizando atividades de extensão em diferentes países e regiões. Pedimos às universidades católicas da América Latina que ajudem na criação da Universidade Católica Amazônica e acompanhem seu desenvolvimento.

Documento Final 114

Esta formulação serviu como base para as reflexões e encaminhamentos tomados no encontro de Quito, que reuniu cerca de 25 representantes de diferentes organizações eclesiais e instituições educativas, presentes na região pan-amazônica ou interessadas em ajudar, a partir de experiências existentes em outros lugares do planeta. No seu primeiro dia, o encontro teve a presença do cardeal Pedro Barreto SJ, presidente da CEAMA, que recordou a figura do seu antecessor, o Cardeal Cláudio Hummes, como grande inspirador de todo o processo que estamos vivendo hoje nas igrejas e região amazônica. Entre os participantes, quatro brasileiros estavam entre os convidados a falar de suas experiências, sendo dois vindos da Amazônia, um de Brasília e, finalmente, outro de Roma. Cada um buscou trazer elementos para o discernimento em comum sobre qual caminho o Projeto Universitário da Amazônia deve trilhar, compartilhando com os demais as iniciativas já em andamento nas suas realidades, tanto no âmbito eclesial como no mundo universitário.

Tendo participado como perito no Sínodo amazônico, o professor Joaquim Alberto Andrade Silva, representando a União Brasileira de Educação Católica, trouxe para o encontro de Quito o tema dos “horizontes e possibilidades para a Educação Intercultural na região Pan-Amazônica”, compartilhando algumas experiências bem sucedidas no Brasil, sendo uma delas dentro do território amazônico, que podem servir de inspiração para ajudar a concretizar o sonho social de Francisco, por meio da implantação de programas que assumam a educação intercultural como uma de suas características na região pan-amazônica. Ele também partilhou a sua experiência pastoral ligada ao tema das juventudes, indicando algumas pistas de ação para um programa universitário na região Pan-Amazônica.

O Pe. Zenildo Lima, de Manaus (AM), que esteve no Sínodo sobre a Amazônia como auditor, partilhou a sua experiência de ser reitor de um seminário maior interdiocesano na Amazônia, que recebe também seminaristas indígenas, junto a outros jovens. A sua exposição motivou uma rica troca de opiniões e sugestões sobre como continuar promovendo, adaptando e ampliando os processos de formação que estimule o diálogo entre a espiritualidade cristã e as cosmovisões amazônicas dos seus povos originários, a partir de um novo programa ou sistema universitário, como está sendo proposto pela CEAMA. Pe. Zenildo enfatizou o caráter intercultural do seminário de Manaus, como algo característico da realidade pan-amazônica e que deve, necessariamente, levar a Igreja a se perguntar como continuar promovendo, adaptando e ampliando os processos de ministerialidades inculturadas na região Pan-Amazônica. Esta pergunta também não pode ficar fora de um projeto voltado para as universidades na região, como pretende ser o PUAM.

Por sua vez, o Pe. Adelson Araújo dos Santos SJ, perito no Sínodo Pan-Amazônico, professor de teologia espiritual e diretor de um centro que prepara futuros formadores na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, compartilhou com os demais a sua experiência de ser um amazônida vivendo na Europa, que busca colaborar com alguns projetos que fomentam a construção de pontes entre dois mundos cultural e geograficamente distantes, mas que, a partir da encíclica Laudato Sì e do Sínodo têm havido maior consciência de que tudo está interligado, sendo imperativo que mesmo as universidades européias e eclesiásticas introduzam em seus currículos temas que formem para o cuidado da nossa casa comum. Pe. Adelson foi convidado a falar também sobre como o sonho eclesial do Papa Francisco tem conseguido motivar iniciativas concretas nas pontifícias universidades romanas para o diálogo entre espiritualidade cristã e cosmovisões amazônicas. Em sua exposição, ele destacou a criação de um Diplomado em Ecologia Integral, assumido em caráter interinstitucional por todas as pontifícias, com duração de um ano, como também o novo curso criado na Gregoriana, com o título “Diálogo entre teologia, espiritualidade e ecologia integral. A contribuição do Sínodo sobre a Amazônia”, oferecido pelo Instituto de Espiritualidade e pelas faculdades de Teologia e Missiologia da referida universidade.

A Ir. Roselei Bertoldo, Secretaria Executiva do Regional Norte 1 – AM/RR da CNBB, trouxe uma importante contribuição ao encontro partilhando o tema das “Migrações, Refugiados e Tráfico na Pan-Amazônia”, na qual demonstrou o quanto é fundamental que temas como estes, que dizem respeito a problemas que afetam diretamente as populações amazônicas, não podem estar de fora de um programa universitário voltado para a região. Ela também nos ajudou a perceber como tudo está interligado, pois a questão da presença ilegal de garimpos na Amazônia atrai toda sorte de problemas ambientais, mas também sociais, entre eles o próprio tráfico e a exploração sexual de crianças e mulheres. Ir. Rose destacou de modo especial o enfrentamento ao abuso, exploração sexual e o tráfico de pessoas realizado pela Rede um Grito pela Vida, da qual faz parte. Ir. Rose também esteve no Sínodo, convidada como auditora.

Além desse grupo de brasileiros o encontro, que ocorreu nas dependências da Pontifícia Universidade Católica do Equador, contou com a participação de represetantes de outras instituições universitárias, eclesiais ou de apoio econômico com sede em outros paises da América Latina e Europa. Cada um desses participantes teve também a oportunidade de compartilhar o seu trabalho e deixar a sua contribuição para que, coordenado pela Conferência Eclesial da Amazônia, o projeto de um programa ou sistema universitário voltado para a região pan-amazônica se torne cada vez mais realidade, como apontou o documento final do sínodo e como sonha o Papa Francisco e todos nós com ele.

Colaboração: Pe. Adelson Araújo dos Santos, SJ
adelsonsj@gmail.com

Pe. Adelson Santos
Irmã Rose Bertoldo – Secretária Executiva Regional Norte 1 – AM/RR

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