A afirmação de São Paulo VI “Cristo aponta para Amazônia”, interpela e expressa um mandato missionário. Cinquenta anos depois do fecundo Encontro dos Bispos da Amazônia em Santarém, 1972, novamente a Igreja se reuniu numa expressão de profunda sinodalidade. Reuniram-se cristãos leigos e leigas, a vida religiosa consagrada, presbíteros e bispos das Igrejas Particulares da Amazônia Brasileira para celebrar o jubileu do memorável encontro. O IV Encontro da Igreja Católica no Amazonas expressou o desejo de reassumir compromissos evangelizadores recebidos e dar continuidade ao caminho do Sínodo para Amazônia, celebrado de 6 e 27 de outubro de 2019, no Vaticano. Memorando os 50 anos, o desejo é de avançar com coragem e ousadia.
Tratou-se de um encontro de escuta, contemplação e sonhos. Escuta das vozes das populações indígenas, do testemunho da experiência dos pequenos, da voz da academia e daqueles e daquelas que têm o cuidado pastoral do povo de Deus. Escuta do que o Espírito diz à Igreja (cf. Ap 2,7) que está na Amazônia. A contemplação deste chão sagrado (cf. Ex 3,5) encheu os corações dos participantes de alegria pela fecundidade de vida presente nesta região e pelo que ela pode oferecer ao mundo como proposta de convivência harmônica nesta casa comum onde tudo está interligado. Houve, também, a preocupação e a inquietação com o avanço da destruição capitaneada por um modelo de desenvolvimento predatório e assombroso que empurram a região para um processo de esgotamento quase irreversível.
No caminho de Igreja traçado ao longo dos 50 anos, aprendemos moldar o jeito de ser uma Igreja de rostos amazônicos. Fiéis ao mandato missionário de Jesus que nos pede de avançar para águas mais profundas (cf. Lc 5,4), fazendo nossos os sonhos da Querida Amazônia, os participantes reafirmaram os caminhos de encarnação na realidade e evangelização libertadora, atualizaram as opções pastorais e evangelizadoras, atentos às necessidades das comunidades eclesiais, da formação dos discípulos missionários, da vida dos povos da Amazônia e com eles toda casa comum, e das juventudes. Celebraram e afirmaram na mais profunda comunhão com a Igreja no Brasil em suas Diretrizes de Ação Evangelizadora, com o Papa Francisco que encoraja na caminhada, e com a Igreja do mundo inteiro na sinodalidade, de comunhão, participação e missão.
Guiados pela confiança na Virgem Maria, Senhora de Nazaré, Rainha e Mãe da Amazônia, Mãe da Igreja e Mãe dos Pobres ofereceram um documento para as comunidades. Ela nos ajude, a cada um e as Igrejas Particulares a acolher as indicações apresentadas no documento construído por muitas mãos e traduzi-los em iniciativas localizadas e articuladas regionalmente, para gerarem vida, e vida em abundância (cf. Jo, 10,10).
Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus
Publicado no Jornal Em Tempo, 25 e 26 de junho de 2022