Servir à Igreja, ao Papa

Uma surpresa, como costuma surpreender Papa Francisco. A nomeação para compor o colégio dos cardeais manifesta de afeto e apoio do Papa Francisco ao serviço evangelizador das dioceses e prelazias que estão na Amazônia Brasileira. Um gesto de proximidade e comprometimento. Como o Santo Padre está comprometido com a Amazônia, a nomeação pode ser o desejo de que a Igreja na região permaneça próxima e ativa e, sempre mais, entre no movimento do espírito sinodal: escuta, partilha, comunhão, evangelização.

Os cardeais são chamados a entregar sua vida pelo Evangelho, pela Igreja, pelo Papa. A cor vermelha das vestes tem esse simbolismo da vida que é entregue a serviço. Tornam-se colaborados mais próximos do Papa, participando de organismos, dicastérios na Cúria romana, mas também a presença do Papa na região onde exercem o seu ministério. São ordenados diáconos, presbíteros, bispos, mas os cardeais são nomeados. Nomeados para ajudarem o Papa no seu ministério petrino, bispo de Roma. Servir à Igreja, ao Papa.

Na Mensagem enviada para o Dia Mundial das Comunicações deste ano, Papa Francisco convidava a todos a manifestar a necessidade de um mundo harmônico: “cientes de participar numa comunhão que nos precede e inclui, possamos descobrir uma Igreja sinfônica, na qual cada um é capaz de cantar com a própria voz, acolhendo como dom as dos outros, para manifestar a harmonia do conjunto que o Espírito Santo compõe.” Os novos cardeais foram chamados a colocar à disposição do Evangelho, da Igreja, do Santo Padre a voz, os dons, a vida. Tudo como serviço à Igreja que está atenta aos dramas humanos, especialmente a dos pobres, levando a esperança e a vida do Ressuscitado. Foram chamados a colocar a voz e os outros dons a serviço da paz, da fraternidade, da justiça, do amor, da harmonia da casa comum. Voz, dons e vida para despertar para a beleza da santidade.

Tenho a sensação de que o Papa, com a nomeação, está a pedir à Igreja na Amazônia brasileira que realize os seus sonhos expressos em “Querida Amazônia”. Sou um entre tantos homens e mulheres que buscam viver o Evangelho: mulheres e homens leigos, diáconos, presbíteros, vida religiosa, bispos. Sinto-me rodeado por esses irmãos e irmãs, e inserido na multidão que forma a Igreja. Tantas riquezas espirituais e culturais de nossas comunidades. Estar atento à dinâmica da Igreja que procura inculturar o Evangelho. Criar mecanismos e dinâmicas que visibilizem na Amazônia as agressões e as belezas, as destruições e as esperanças. Buscar um diálogo com as universidades e outras instituições para tornar visível as problemáticas e oferecer soluções. É bom perceber que as pessoas compreendam a nomeação como proximidade do Papa para com a Amazônia. Ajuda a distanciar-se de méritos pessoais e obriga a um compromisso de serviço livre.

Pessoalmente, a escolha leva-me a buscar uma vida mais simples, uma maior proximidade com os sofredores e pobres, a servir em comunhão com os irmãos no episcopado; admirar a fé e a solidariedade das nossas comunidades. Corresponder ao modo afetuoso e fraterno que as caracteriza. Assumir melhor o compromisso de animar as comunidades a partir do Evangelho e da Carta Querida Amazônia que indicam os passos evangelizadores para nós que vivemos nestas terras.
Agradecer ao Papa Francisco por ter olhado para a periferia da Igreja que está na Amazônia.

Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus

Publicado no Jornal Em Tempo, 4 e 5 de junho de 2022

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