No amar – Artigo de D. Leonardo Steiner – 15/5/2022

“Quem quer desfazer-se do amor, prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem” (Bento XVI).

O amor é gratuito! A gratuidade está na liberdade de cuidar, servir, sem trocas. Simplesmente amar. No amor somos amados! É o amor que nos encontra na pessoa do outro, nas manifestações de Deus que nos busca continuamente.
Admirável que tenhamos sido e continuamos a ser amados, amadas, simplesmente porque Deus se tenha apaixonado por nós. Esse amor livre, generoso, que transforma a nossa vida, a nossa cotidianidade, os nossos dissabores. Nos descaminhos da vida, somos sempre buscados, amados, amadas, por Deus. Nos desviamos do caminho, erramos, nos esquecemos e Ele continua a nos buscar, a amar. Mesmo que o tenhamos negado, nos distanciamos, rejeitamos, Ele a nos amar por ser Amor.

“Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”. Como eu vos amei, amai, está a indicar a busca, a descoberta da pessoa do outro como possibilidade de realização da existência humana. É o amor que toca, desperta! É o amor que faz receber e admirar o quanto se é amado, amada, desejado, desejada! É o amor que faz acolher a pessoa do outro. A descoberta do outro, supera o caráter egoísta e possuidor de um amor inautêntico, para experimentar o cuidado do outro e pelo outro. Está na superação da busca a si próprio, da busca de imersão no inebriamento da felicidade, mas na procura do bem do amado. Nada é sacrifício, renúncia, mas possibilidade de plena realização; então sim, um inebriamento de um toque de eternidade. “O amor é ‘êxtase’; êxtase, não no sentido de um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus: ‘Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á’ (Lc 17,33).” (Bento XVI, DC, nº 6)

No ser amado e amar, no amar e deixar-se amar abrem-se os verdadeiros espaços e cria-se um novo tempo. É a espacialidade do amor que tudo recebe, recolhe, perdoa, transforma, reconcilia, dignifica, resgata, enaltece. Como nos diz Paulo: “O amor é magnânimo, é benfazejo. É livre, cuidadoso, pronto para servir; não faz nada de vergonhoso, é generoso, suaviza as agressões, cura e sana o mal sofrido. É transparente na justiça, se regozija e alegra com a verdade. Ele tudo sofre, tudo crê, espera tudo, tudo suporta. (cf. 1Cor 13,4-7)

O amor uns pelos outros a indicar o sentido que transcende todas as realidades e toca o amor que é Deus: “Então, sim, ao amares teu inimigo, estás a amar um irmão. É esse o motivo por que o amor ao inimigo é a perfeição da caridade, já que a caridade perfeita consiste no amor aos irmãos. Ama e fazes o que quiseres; se te calas, cala-te por amor; se falas em tom alto, fala por amor; se corrigires alguém, faze por amor. Pois é preciso amar o homem e não o seu erro. O homem é obra de Deus, o erro é obra do homem. Ama a obra de Deus e purifica as obras do homem. Se existe o inimigo é porque existe o erro. Retira o erro e em vez de enxergares um inimigo, contemplarás um irmão.” (Santo Agostinho)

Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus

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