Semana Santa – Artigo do Arcebispo Dom Leonardo Steiner

“Jesus caminhava à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém”. Caminha à frente, a indicar no caminho da finitude, a salvação, a plenitude.
O mistério da Semana Santa se expressa em dois momentos característicos da celebração de Ramos: inicia a procissão com os ramos e entra com Jesus na Jerusalém da partilha, do amor, da dor e da vida nova! Proclama, solenemente, a narração da Paixão e envolve a todos com a misericórdia de Deus. Caminhar com, atrás de Jesus e participar de sua morte e ressurreição. Sentar-se com ele à mesa, caminhar até o Gólgota, o ver crucificado e morto e aguardar a salvação, da vida nova que nasce da morte de Cruz. A celebração do fogo novo deixa vislumbrar a certeza da vida nova, pois participação na ressurreição de Cristo Jesus.
Jesus que iniciou a sua missão na Galileia chega a Jerusalém. Chega ao fim do “caminho” começado em sua terra. Fim, onde tudo chega ao ápice: irrompe a salvação de Deus. O último gesto é a sua entrega, o seu amor consumado até a morte. Do amor da cruz nasce o Reino da nova humanidade, livre, onde todos são irmãos e irmãs no amor. Da Cruz, lugar da entrega, do amor, do irromper do novo Reino, os apóstolos, os seguidores e seguidoras de Jesus anunciarão a todo mundo a vida nova.
O Evangelho antes da procissão dos ramos, indica a subida de Jesus à cidade de Jerusalém, entrando na cidade, montado num jumentinho. Proclama que seu reinado se estabelecerá nos corações dos que o seguem pela humildade. “Ele não perde a divindade quando nos ensina a humildade. Que significa para o Rei dos séculos tornar-se Rei dos homens? Cristo não era Rei de Israel para impor tributos, nem para ter exércitos armados e guerrear visivelmente contra seus inimigos; era Rei de Israel para governar as almas, para dar conselhos de vida eterna, para conduzir ao reino dos céus os que estavam cheios de fé, esperança e de amor.” (Santo Agostinho)
O texto da Paixão a revelar a misericórdia do Pai. As palavras de Jesus na cruz revelam o sentido, a cor de fundo que sustenta a vida de seguidores e seguidoras: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem”. Jesus não se limita a perdoar, ultrapassa a si mesmo e indica o Pai como a fonte da misericórdia, do perdão. O irromper do amor e do perdão não está n’Ele, mas no Pai. Ele é o intercessor, o suplicador, o ofertador da misericórdia.
A misericórdia benfazeja e redentora ressoa nas palavras dirigidas ao ladrão que lhe suplica para que não seja esquecido: “lembra-te de mim”! Nasce a palavra da misericórdia, da mansidão, da esperança, do aconchego que faz do ladrão crucificado o “bom ladrão”: “Em verdade te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”. É no alto da Cruz que está a fonte da misericórdia! Ela pende e escorre em favor de toda a humanidade.
As palavras de Jesus, aquela expressão de uma confiança infinita no Pai: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”, indicam a plenitude da relação do Filho com o Pai. Sempre esteve nas mãos do Pai, sentiu-se próximo do Pai. E agora na dor extremada, na morte descabida e injusta, reafirma o amor que o une ao Pai. Jesus a dizer da adesão a este amor infinito do seu e nosso Pai, à sua vontade de salvação, de misericórdia, para além de tudo o que se possa intuir. A semana que rememora a fonte da fé, o fundamento do seguimento, cuidadosamente a denominamos Semana Santa!

Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus

 

Publicado no Jornal Em Tempo – 9 e 10/4/2022

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