Estrela guia – Artigo de D. Leonardo Steiner – Jornal Em Tempo 1 e 2/1/2022

Estrelas e uma estrela. Uma estrela que ilumina caminho, faz caminhar. Ver estrelas: ver a Estrela! Existem muitas estrelas, mas uma Estrela que possa iluminar o céu e a terra, e a guiar pelos desertos, pelas cidades, pelos descampados, pelos vales, pelas pobrezas, pelos desvirtuamentos, pelas destruições, pelas agressões à obra criada por Deus, pelas violências e pelos dissabores, até chegar o lugar onde ela descanse e faz o viajante repousar, encantar, admirar e adorar.
“Ao verem de novo a estrela, os Magos sentiram uma alegria muito grande” (Mt 2,1-12). Na Festa da Epifania, manifestação do Senhor, Mateus nos apresenta a estrela que guia os homens do oriente. A estrela partida e chegada.
Sim, a Estrela! A Estrela guia, Estrela que faz caminho, Estrela que conduz ao lugar do encontro, lá onde é possível entrar na casa, permanecer em casa, estar na guarida e proteção. Guiados pela estrela, os homens do oriente entram na “casa” e encontram o menino com Maria, sua mãe. A Estrela razão do caminho, da busca, da “prescrutação”. E quando a estrela repousa na Estrela, desperta reverência, generosidade, entrega, alegria. Todos os valores, todos os dons, todas as oferendas, todos os presentes, todas as reverências para a Estrela, pois mais que sinal, agora caminho novo; indica novo caminho, novo caminhar. Voltam por outro caminho nos conta Mateus. Caminho de liberdade e gratuidade. Estrela início, provocação, ponto de partida, chegada. Especialmente indicação de novo caminho, novo horizonte; novo ponto de partida!
“É o ponto de partida, diz Papa Francisco. Mas, poder-nos-íamos perguntar: Por que foi que só os Magos viram a estrela? Porque, talvez, poucos levantaram o olhar para o céu. De fato, na vida, muitas vezes, contentamo-nos com olhar para a terra: basta a saúde, algum dinheiro e um pouco de divertimento. E pergunto-me: Sabemos nós ainda levantar os olhos para o céu? Sabemos sonhar, anelar por Deus, esperar a sua novidade, ou deixamo-nos levar pela vida como um ramo seco pelo vento? Os Magos não se contentaram com deixar correr, flutuando. Intuíram que, para viver de verdade, é preciso uma meta alta e, por isso, é preciso manter alto o olhar. E poder-nos-íamos perguntar ainda: Porque é que muitos outros, dentre aqueles que levantavam o olhar para o céu, não seguiram aquela estrela, «a sua estrela» (Mt 2,2)? Talvez porque não era uma estrela deslumbrante, que brilhasse mais do que as outras. Era uma estrela que os Magos viram – diz o Evangelho – «despontar» (cf. Mt 2, 2.9). A estrela de Jesus não encandeia, não atordoa, mas gentilmente convida. Podemos perguntar-nos pela estrela que escolhemos na vida. Há estrelas deslumbrantes, que suscitam fortes emoções, mas não indicam o caminho. Tal é o sucesso, o dinheiro, a carreira, as honras, os prazeres procurados como objetivo da existência. Não passam de meteoritos: brilham por um pouco, mas depressa caem e o seu esplendor desaparece. São estrelas cadentes, que, em vez de orientar, despistam. Ao contrário, a estrela do Senhor nem sempre é fulgurante, mas está sempre presente: é meiga, guia-te pela mão na vida, acompanha-te. Não promete recompensas materiais, mas garante a paz e dá, como aos Magos, uma «imensa alegria» (Mt 2,10).” (Papa Francisco, Epifania, 2018)
Também na nossa terra, não só na terra dos homens do oriente, a Estrela indica, não apenas o caminho, a direção no do mar, os horizontes, o lugar, a meta, mas também que das alturas celestes Deus a habitar a terra. A Estrela a encher o céu e a terra. A Estrela a indicar outro caminho: da beleza, da esperança, da ética, do bem-comum, do cuidado com todos e com a obra criada. Outro caminho: a Casa Comum!

Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus

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