DA SINODALIDADE – Artigo Dom Leonardo Steiner – Jornal Em Tempo – 16 e 17.10.2021

Nos dias 9 e 10 deste mês, Papa Francisco deu início ao Sínodo que tem como tema: “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Neste final de semana, dia 17, todas as Prelazias, Dioceses e Arquidioceses, do mundo, numa celebração, iniciarão a caminhada sinodal. Na Celebração Eucarística das 7h30, na Catedral, abriremos oficialmente o Sínodo na Arquidiocese de Manaus.

O caminho sinodal tem início nas igrejas particulares, passará por encontros continentais e uma etapa em Roma com a celebração da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos em outubro de 2023. A escuta realizada nas igrejas, retomada e meditada na Assembleia, retornará às Dioceses e Prelazias para dinamizar a vida do Evangelho nas nossas comunidades.

Sínodo quer dizer caminhar juntos: odos caminho; sin junto. A palavra sinodalidade, na sua etimologia, expressa um movimento essencial para a Igreja: Sin=junto, odos=caminho, idade (it sanscrito) força, vigor, energia. A força, o vigor que nos deixa trilhar o caminho juntos; um caminho feito junto, impulsionados pela força e a energia do Espírito Santo. Uma Igreja que evangeliza, celebra, consola, cuida em comunhão e participação.

Papa Francisco deseja que toda a Igreja reflita e se deixe dinamizar pela sinodalidade. Por isso, convida todas as comunidades e famílias a refletir e tomar consciência de sua vida e missão: “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio” (Discurso na Comemoração do cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos (17 de outubro de 2015). Este itinerário é um dom e uma tarefa. Dom porque juntos percebe-se melhor o caminho que estamos percorrendo para a viver a comunhão e, assim possibilitar a participação de todos na vida do Evangelho. Tarefa, pois na reflexão e oração em comum abrem-se horizontes novos para a missão da comunidade cristã. O “caminhar juntos” é o que faz e manifesta a natureza da Igreja como Povo de Deus peregrino e missionário.

As Encíclicas Laudato sí e Fratelli tutti, de Papa Francisco, acendem a esperança e indicam o caminho comum da humanidade. O “caminhar juntos” faz ver as divisões, as desilusões, as pessoas que acabam deixadas pelo caminho e deixa ressoar o clamor dos pobres e da terra. No “Caminhar juntos”, na Igreja, vamos nos apercebendo das sementes de esperança que o Espírito faz germinar: “O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem se arrepende de nos ter criado. A humanidade ainda possui a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum” (LS, 13).

A sinodalidade não é uma questão restrita à organização ou funcionamento eclesial, mas pertence à própria natureza da Igreja, isto é, possui fundamentação teológica. O horizonte da sinodalidade é eclesiológico, espiritual, e não funcional. Para uma justa compreensão da sinodalidade, é importante retomar a eclesiologia como “mistério”, sinal e instrumento de comunhão, e como “Povo de Deus”, no qual há diversidade de vocações e ministérios, mas “reina entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo” (Lumen Gentium 32).  Uma Igreja servidora, ministerial, na qual a autoridade se exprime como serviço e o próprio Sucessor de Pedro se apresenta como “servo dos servos de Deus”.

“Igreja e Sínodo são sinônimos”, ensinava São João Crisóstomo (Explicatio in Ps.). Escutar uns aos outros, escutar todas as comunidades, ver o que o Espírito Santo diz à Igreja, é “caminhar juntos”. A caminhada da Assembleia Sinodal deseja ouvir a todos, para que a comunidade cristã possa ser a presença viva de Jesus.

Dom Leonardo Steiner

Arcebispo de Manaus

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