Discutir a economia significa pensar em nós mesmo, na nossa humanidade

A Economia de Francisco e Clara é um chamado do Papa Francisco a repensar o atual sistema econômico, a mudar a economia atual e atribuir uma alma à economia do amanhã. Isso tem repercussões em todos os cantos do Planeta, também na Amazônia. E para refletir essa questão, no dia 27 de fevereiro foi realizado o 1.º Encontro Regional da Amazônia Legal e reuniu aproximadamente 100 pessoas em uma plataforma virtual.

O evento deu-se emforma de painéis expositivos com a presença de Eduardo Brasileiro, educador e membro da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara (ABEFC); Dom Leonardo Ulrich Steiner, Arcebispo de Manaus; Professora Márcia Oliveira, da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e assessora da Rede Eclesial Pan Amazônica (Repam); Luis Fernando Novoa (IPPUR-UFRJ) e Marcela Vieira (ABEFC e Cáritas).

Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, afirmou a necessidade de “retomar à economia dos povos originários, que não é do lucro e sim da relação, porque é partilha, é cuidado”. Segundo ele, o desafio é uma economia a serviço de todos, uma economia que tem a ver com fraternidade, visto que “vivemos hoje uma injustiça econômica, a desestruturação das relações por causa de economia”, afirmou ao fazer um chamado a permanecer na escuta da realidade a partir do sentido de ser pessoa, enfatizando que se trata de uma economia de pessoas, não de objetos, de imagem e semelhança de Deus.

Falar de economia, segundo o arcebispo de Manaus, é falar de “ser casa, que é o que abriga, aquilo que se faz necessário para o cuidado e o cultivo da nossa casa comum”, que ele não entende como estrutura e sim “as relações que estabelecem com todos os seres”. Dom Leonardo fez uma análise da etimologia da palavra economia, insistindo na dimensão dos indivíduos que convivem e das relações que cuidam da distribuição, não só das coisas, também do cuidado das diferentes questões que fazem parte da vida. Segundo o arcebispo, “a economia expressa um modo de ser nós”, que nos leva ao cuidado da totalidade das pessoas e do seu mundo.

O Papa Francisco pretende, segundo Dom Leonardo, mostrar “o valor da economia na deseconomia em que vivemos”, superando o modo de entendermos hoje a economia como mercado, como lucro, insistindo na necessidade de “retornarmos ao modo de ser do homem, que é cuidar”. Para o arcebispo de Manaus, “discutir a economia significa pensar em nós mesmo, na nossa humanidade, para não nos tornarmos desumanos”, uma questão importante hoje, em que “a economia, ela não é mais humana, ela é do mercado, e o mercado não tem coração”.

O arcebispo de Manaus, que é franciscano, refletiu sobre a forma de entender a vida de Francisco e Clara, que guiaram sua vida pela gratuidade. Em relação à Amazônia, ele refletiu sobre a cobiça que existe sobre tudo o que a Amazônia contém, enfatizando que “tudo isso tira a gratuidade da Amazônia e a gratuidade dos povos originários”. Segundo Dom Leonardo, “da gratuidade nasce a fraternidade”, realizando uma igualdade que não seja puro nivelamento e uniformização. “Em Francisco e Clara tudo é irmão e irmã, permanecendo na sua diferença de ser”, afirmou o arcebispo.

Dom Leonardo fez uma reflexão sobre o porquê de ter tanto pobre no mundo hoje: “porque não há misericórdia, porque a economia deixou de ser economia no seu sentido etimológico”. O arcebispo afirmou também que “a força histórica do cristianismo não vem do poder, mas sim da autoridade do não poder, do amor, dos pobres”. Nesse sentido, questionou se não estamos traindo o Evangelho quanto à questão econômica pelo fato de que “elegemos o poder e a força como nossa autoridade, e não o cuidado”.

Ao falar de “Querida Amazônia”, Dom Leonardo disse que nela o Papa Francisco nos oferece um novo horizonte para a economia na Amazônia, nos apresentando a “economia como cuidar da casa comum”. Segundo ele, os quatro sonhos são quatro dimensões que nos oferecem a totalidade do modo de ser de quem vive na Amazônia, que nos ajuda a nos darmos conta da importância de tudo e de todos. Cada uma das dimensões está mostrando a totalidade, o que somos como pessoas e a casa que nos deixa ser pessoas, e insistiu que “enquanto não mudar para a admiração e o cuidado, só se vê lucro” e que por isso se faz necessário deixar de lado a dominação, a destruição, o lucro, o mercado, a escravidão, a expulsão e a morte.

Segundo o arcebispo, a economia baseada no mercado, não vê as belezas da Amazônia e dos povos que nela habitam. “É uma economia que mata […] a economia que temos hoje em relação à Amazônia mata, perdemos a totalidade, vamos perdendo todo, vamos perdendo nossa morada, a nossa moradia, estamos entrando no deserto”, enfatizou Dom Leonardo Steiner. A Querida Amazônia, segundo ele, “pode nos ajudar a despertar e perceber a necessidade urgente de mudar a nossa concepção de economia”, algo que já aparece na Laudato Si, onde nos convida não a dominar e sim a assumir a responsabilidade, ainda mais tendo em conta que nós somos destruidores.

 

Colaboração:  Pe. Luis Modino, assessor de comunicação do Regional Norte 1

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