Nota de Falecimento – Padre Celestino Ceretta

Com pesar, a Arquidiocese de Manaus informa o falecimento de um grande missionário que muito contribuiu para a evangelização em terras amazônicas.  Padre Celestino Ceretta faleceu na madrugada desta segunda-feira, 18/01/2021, aos 79 anos de idade, vítima de complicações causadas pelo COVID 19.

Ele era missionário da Congregação dos Sacerdotes do Apostolado Católico (SAC) – Palotinos. Tinha 53 anos de profissão religiosa e 49 anos de sacerdócio, sendo missionário em Manaus desde 1977, há 44 anos, construindo uma importante história de missão evangelizadora. Atualmente, assumia a função de vigário paroquial na Área Missionária Ponta Negra.

 

Sobre o  padre Celestino

Extraído do artigo Vida e Fé, Revista Arquidiocese em Notícias de outubro de 2017 – Edição n. 144 *

Pe. Celestino Ceretta chegou em Manaus em 1977.  O gaúcho de Sobradinho, ao sair do avião, deparou-se com um calor tão grande que teve vontade de voltar para o Rio Grande do Sul na mesma hora. Os primeiros anos foram difíceis. Seus maiores desafios foram adaptar-se ao clima e à mudança na alimentação. Naquela época, era muito comum na cidade, consumir alimentos industrializados – uma mudança muito brusca para quem estava acostumado às verduras e frutas fresquinhas.

Celestino é filho de uma família simples da roça gaúcha. Filho do casal Paulina e Agostinho, ao lado dos irmãos Maria, Ivo, José, Eliseu, Pio Antônio e Antônio, teve uma infância humilde, mas repleta de amor. Filho de pai professor de alfabetização primária, cresceu, ouvindo as conversas do pai com o tio. Sentado num cepo de madeira que servia de degrau da casa, ficava atento a cada detalhe das inúmeras histórias contadas. Não sabia que ali, sentado naquele cepo, começava a escrever uma linda história de vida.

Celestino entrou para o seminário com 15 anos e deu início à sua caminhada vocacional. Naquela época era muito comum, os pais incentivarem os filhos a entrarem para o seminário – uma das poucas garantias de que estudariam. Em 1967 consagrou-se à vida religiosa. Em 1972, foi ordenado padre.

Foi pegando gosto pela leitura e pela produção textual. Aos poucos os olhos foram se abrindo, o cérebro processando novos saberes, apurando os sentidos, aprendendo a valorizar cada informação recebida, como se fossem peças de um grande quebra-cabeça.

Desde 1977, Pe. Celestino dedicava-se à construção do Reino de Deus junto ao povo do Amazonas. Quando aqui chegou, celebrou a primeira missa numa comunidade localizada no Conjunto Dom Pedro, zona oeste de Manaus – dando os primeiros passos que culminaram com a instalação da Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, em 1980. Na prática sacerdotal diária, Pe. Celestino foi descobrindo que nada deve nos impedir de fazer o trabalho evangelizador, fraternal e caritativo. Vivendo no Amazonas, descobriu um novo amor: a natureza. Por vezes, querendo acertar, errou. Com o tempo, foi descobrindo que, de fato, é necessário cultivar e guardar a criação. Respeitar a natureza, compreender seu ritmo sem atropelá-la, contemplar sua beleza sem destruir e consumir de maneira responsável. “Como não se apaixonar pela obra do Criador?”

Em 1990 passou três meses na Cidade do México, onde fez o Curso de História da Igreja na América Latina, promovido pela Comissão de Estudos da Igreja na América Latina.  Depois do curso no México, virou a página dos rascunhos e passou a escrever “pra valer”.  Aprendeu as técnicas, descobriu métodos, estudou biografias e documentos, debruçou-se sobre acervos, apurou os ouvidos da alma, coletou depoimentos, viajou, visitou comunidades e, a convite de Dom Luiz Soares Vieira, foi escrevendo a história da Igreja na Amazônia. Deus foi conduzindo seu trabalho para fontes seguras e a semente lançada germinou e deu frutos. Em 2002 publicou “Campestre no Limiar dos 100 Anos”; em 2005, “Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos: histórico dos 25 anos”; em 2008, o primeiro volume da “História da Igreja na Amazônia Central”; e em 2014, o segundo volume e também publicou “Comunidade Santa Terezinha”. Tudo escrito à luz do saber histórico e da fé.

Vinha dedicando-se às pesquisas para contar a história da Igreja da Arquidiocese de Manaus, tendo dom Sergio Castriani seu grande incentivador.

Pe. Celestino convivia com o tremor essencial há 25 anos e, embora isso lhe imponha algumas limitações, segue em frente. Treme mas não teme! Se com as mãos e caneta fica difícil, descobriu que a tecnologia pode ajudar. Se o violão e o vôlei precisaram ficar de lado e se nem sempre o cálice conseguia levantar, seguia firme a missão e continuava a fazer história, dando a vida pela Igreja.

Entre idas e vindas, típicas da vida missionária, em 2012 dedicava-se ao Santuário Nossa Senhora de Fátima, no bairro Praça 14 de Janeiro, atuando como administrador paroquial e marcou presença pastoral nas comunidades. Com as mãos postas em prece, agradeceu a Deus por cada passo dado e procura estar sempre a serviço.

“Todos os dias temos que decidir. Todos os dias temos que optar por querer fazer o bem. Deus me pega pelas mãos e faz junto comigo”. E desse jeito foi aprendendo a lidar com o povo da Amazônia, a conhecer sua beleza e a valorizar sua riqueza.

Seguindo os ensinamentos de São Vicente Pallotti, diz que é necessário organizar o povo, trabalhar a
coletividade e a colaboração, reavivar a fé e confiar-se à proteção de Nossa Senhora.

“O melhor caminho é investir na educação. E nesse cenário em que estamos vivendo, a Igreja tem papel fundamental. Deve ter uma visão e ação social muito madura, orientar, posicionar-se sempre a favor da vida digna para todos e construir cidadania. Como cristãos, temos que alimentar a esperança. E assim, Deus vai continuar agindo”, afirma Pe. Celestino.

Atualmente, padre Celestino ajudava nos trabalhos da Área Missionária Ponta Negra, assumindo a função de vigário paroquial.

 

*Escrito por Adriana Ribeiro – Relações Públicas, coordenadora Pastoral da Comunicação Arquidiocesana e apresentadora do Programa Arquidiocese em Notícias / Rádio Rio Mar

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