Estende a mão – Artigo de D. Sergio Castriani – Jornal Em Tempo 14 e 15/11/2020

Já chegamos a quarta edição do dia mundial do pobre, instituído pelo papa Francisco para ser uma ocasião na qual o pobre e as situações de pobreza fossem mais conhecidos e se tomassem iniciativas concretas em vista da situação de boa parte da humanidade. Às vezes os pobres se tornam invisíveis para a sociedade, que vive como se eles não existissem. Outras vezes a situação é tão dramática que as pessoas como que se acostumam e ficam indiferentes ao sofrimento dos irmãos e das irmãs. Neste dia, a proposta é que se identifiquem os pobres que estão entre nós e façamos um gesto profético, fazendo uma refeição com eles, por exemplo.

O lema deste ano é tirado do livro de Sirac (7, 32): “Estende a tua mão ao pobre”. Alguns se perguntam que eficácia evangelizadora tem um dia como esse. O próprio Papa coloca na sua mensagem que é preciso um treinamento diário de estender a mão para o pobre. Mas, nós precisamos gestos proféticos que nos mostrem onde os pobres estão. A arquidiocese tem feito isto ultimamente e tem descoberto onde está a pobreza na cidade e nos seus arredores.

Penso que nós, que já éramos atentos, fiquemos mais atentos à situação dos refugiados, estrangeiros que vem ao Brasil em busca de melhoria de vida. Descobrimos como Igreja uma população de rua que espera uma aproximação diferenciada da Igreja. Como igreja também estamos cada vez mais perto dos povos indígenas urbanos. A pandemia foi uma ocasião de crescimento da solidariedade que a Cáritas representa na nossa Arquidiocese. A reorganização da Comissão Pastoral da Terra colocou na Igreja a preocupação pelos agricultores pobres da nossa sociedade.

Conhecer os pobres, sua história, seus desejos, tratá-los como seres humanos que tem dignidade. Há uma caridade que humilha, desfaz a pessoa, cria ressentimentos. É isto talvez o maior ganho do dia do pobre. Soube que há um grupo de pessoas que se reúne normalmente cada semana pra rezar o ofício com o pessoal da rua. Rezar com os pobres e não somente por eles é fazer uma experiência privilegiada do Reino de Deus. Estar com os pobres é estar onde Jesus está. A Igreja é dos pobres em primeiro lugar. Não e preciso deixar de ser pobre para fazer parte da Igreja. Os pobres tem direito aos sacramentos, ao Batismo, ao Crisma. E mesmo a Eucaristia deveria ser acessível a eles.

A Pastoral do Povo da Rua procura abrir caminhos para uma população de rua formada por indivíduos conscientes e não zumbis, que não tem mais vontade própria. Tudo isto está nas conclusões da nossa Assembleia, e no nosso Plano de Evangelização. A palavra de nosso Arcebispo Dom Leonardo também faz ressonância as palavras do Papa Francisco que nos pede estender a mão para o pobre. Como este domingo é dia de eleição, foi decidido que no próximo final de semana a Igreja de Manaus fara alguns gestos significativos como sinal de seu compromisso com os pobres. Mas toda conversão supõem homens e mulheres novos. Faça um gesto, mesmo que só você ficar sabendo. Pare para conversar com aquele que te pede uma esmola. Convide para um lanche uma família de rua. Aproxime-se de alguém que está na pobreza e o mundo será melhor porque alguém foi fraterno.

 

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO EMÉRITO

JORNAL: EM TEMPO

Data de Publicação: 14.11 e 15.11.2020

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