Na nossa fé católica, os santos ocupam um lugar especial. Quando chegamos numa casa e vemos um altar com imagens, sabemos que esta casa é uma casa de católicos. Somos acusados de idólatras, por venerarmos imagens, usarmos escapulários e até por rezar o terço. Mas para nós os santos e o seu culto fazem parte da nossa fé. São amigos nossos a quem recorremos nas dificuldades da vida. Somos uma só família. Eles já viveram e deram provas de seu amor a Deus e as suas criaturas. São testemunhas de Jesus.
A Igreja tem uma lista de santos e santas canonizados, que depois de um processo longo, que inclui dois milagres são propostos a toda a Igreja como exemplo de vida e intercessores diante de Deus. Nenhum santo toma o lugar de Cristo na mediação entre Deus e a humanidade. Os santos foram seguidores de Jesus que se destacaram do normal e tiveram uma vida heroica no que toca as virtudes. O processo começa assim, provando que o candidato aos altares praticou as virtudes numa forma heroica.
É claro que há muito mais santos no céu e celebramos todos eles no dia primeiro de novembro. A oração do dia de todos os santos reza assim: “Deus eterno e todo poderoso que nos dais celebrar numa só festa o mérito de todos os santos, concedei-nos por intercessores tão numerosos, a plenitude da sua misericórdia”.
No livro do Apocalipse, o vidente vê uma grande multidão que ninguém podia contar, em pé diante do cordeiro. Mas há um grupo que se destaca, estão com vestes brancas e trazem palmas nas mãos. São os que vieram da grande tribulação. Alvejaram suas vestes no sangue do cordeiro. São os que morreram violentamente como Jesus, por isso lavaram as vestes no seu sangue. São os mártires e aqueles que morreram em épocas de perseguição ou de epidemias, quando se morre por atacado, e por isso é uma grande tribulação. Em todos os tempos e em todos os lugares da terra a humanidade sofre de grandes tribulações. No nosso tempo não podia ser diferente. As guerras fratricidas juntam-se à pandemia do coronavírus.
A outra leitura da missa de hoje coloca a realidade da filiação divina. Somos filhos de Deus já neste mundo. A realidade é muito melhor, mas só a conheceremos na outra vida quando encontrarmos o Cristo e olharmos para ele, e ele olhar para nós. O culto aos santos faz da nossa fé uma fé humana. Homens e mulheres que viveram as bem aventuranças nesta vida e foram felizes já aqui neste mundo, convivem agora com Deus no céu. Nós também podemos ser felizes nesta vida, e na outra.
O caminho da felicidade está traçado por Jesus nas bem-aventuranças. Sejamos misericordiosos, pacíficos, pobres, amantes da justiça, chorando com os que choram, alegrando-nos com os que se alegram. Vivendo o céu na terra. A festa de hoje é o reconhecimento de que com Jesus as portas do céu se escancararam e podemos invocar os que já lá estão. Caminhemos sem medo para a eternidade onde vivem os santos, nossos amigos, aqui neste vale de lágrimas. Um dia faremos parte da Igreja triunfante depois de viver nesta vida grandes tribulações nas quais vivemos unidos ao sofrimento de Jesus que já venceu a morte.
ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO EMÉRITO
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 31.10 ou 1.11.2020