Em Manaus existe uma Igreja onde todos se sentem participantes. Ela poderia ser a matriz da cidade. Ali todos se sentem bem. Os que tem problemas nas suas próprias comunidades, encontram ali consolo. Os que querem se reconciliar numa confissão encontraram ali um filho de São Francisco disposto a ouvir a confissão. Ali os pobres procuram auxílio. E eles vem de toda a cidade.
A Igreja está situada no maior e melhor cartão-postal da cidade, em frente à Praça de São Sebastião, onde está o famoso teatro de Manaus. Turistas que vem à Manaus passam obrigatoriamente pela frente da Igreja que é um testemunho vivo do caminho trilhado pela Igreja nesta cidade marcada pela fé católica. Sebastião é o padroeiro das principais localidades situadas na Amazônia profunda. Num tempo em que missa era coisa rara e o povo necessitava de protetores celestes, São Sebastião era cultuado em Portugal com uma mistura histórica que confundia o santo mártir com o Rei Sebastião, morto na luta contra os mouros, o que o fazia um protetor contra a peste, tinha muitos devotos e ainda os tem nos dias de hoje. É um santo popular, que atrai uma grande multidão, muita gente com histórias de graças recebidas.
Mas, de um tempo para cá, a paróquia ganhou um segundo padroeiro, São Francisco. Nada mais justo, por que Francisco é tão venerado como Sebastião, na Amazônia inteira onde os nordestinos levaram entre os seus poucos pertences uma estampa de São Francisco das Chagas. E tornou-se o santo amigo, companheiro, exemplo de seguidor do Evangelho, protetor dos pobres, da natureza e dos animais. Assim, naquela junção ficaram para sempre ligadas estas duas devoções amazônicas que definem a espiritualidade da região. Sebastião, o protetor poderoso; Francisco, o amigo dos pobres e dos pequenos.
A Igreja de São Sebastião é em si mesma uma joia, obra de arte no meio da floresta, se imaginarmos que a mata já está do outro lado do rio. E esta joia está danificada pela ação do tempo. O clima de Manaus não ajuda na conservação dos lugares históricos. É necessário intervir para conservar. E a hora é agora. Façamos da conservação deste monumento que sintetiza a nossa fé operosa um exemplo de empenho comum na reconstrução da nossa sociedade ferida pela ação do coronavírus. Que a restauração deste templo seja sinal da reconstrução do tecido social, muitas vezes rompido. Que seja uma ação de todos os que encontram ou que encontraram consolo, um dia, junto aos capuchinhos de São Sebastião.
Que possamos mostrar aos visitantes que Manaus sabe que nem só de Pão vive o homem e que tem um povo católico capaz de cuidar de seu patrimônio de fé. Uma Igreja não é somente uma construção vazia em que se sucedem atos de culto, mas é um lugar consagrado ao senhor, onde ele realiza nos sacramentos a história da salvação. Uma história que se confunde com a história humana. Preservar os lugares históricos é preservar as pegadas do Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós. Com tão poderosos intercessores e mediadores será com certeza uma campanha vitoriosa.
ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO EMÉRITO
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 13.9.2020