No meio da história – Artigo de Dom Sergio Castriani – Jornal Em Tempo – 9.8.2020

A experiência de Deus feita pelo povo de Israel é única. Um Deus que fala com seu povo, que se irrita, que tem ciúmes, que salva, que liberta. Um Deus que faz história junto com seus escolhidos. Um Deus que tira a vida dos egípcios para que Israel seja salvo. Um Deus que expulsou nações para que seu povo tivesse uma terra. Este Deus só pode ser o Senhor de tudo e de todos. As maravilhas que ele operou na história atestam esta verdade. Não há outro além dele. Por isto, devemos guardar seus mandamentos. Os mandamentos são o caminho para permanecer na terra prometida e ser um povo livre.

Nós somos herdeiros desta história. Lemos as Escrituras Sagradas na liturgia. Rezamos os salmos e expressamos nossa convicção que nosso Deus é um Deus que age na história. Isto nos enche de esperança e nos da coragem para lutar por um mundo melhor, para denunciar aquilo que vai contra os valores do Reino de Deus. Jesus anunciou que o reinado de Deus já havia chegado e chegado com ele. Quem quiser entrar no reino deve segui-lo. Jesus nos revela quem é Deus e como se dará o julgamento da história. Somos pessoalmente responsáveis diante do Filho do Homem, quando ele vier na glória Pai.

E o seguimento de Jesus passa pela Cruz. Fazemos hoje memória de uma santa de nossos tempos, que fez da cruz o mistério central de sua caminhada na fé. Já o nome que escolheu quando foi viver no Carmelo, Teresa Benedita da Cruz, expressa o mistério da sua vida. Converteu-se ao cristianismo depois de ler a autobiografia de Santa Teresa D´Avila, mestra da vida espiritual apresentada como um caminho progressivo de perfeição. A cruz, o sofrimento de Jesus, humano, real, assumido na fé e o lugar do encontro da alma com o criador. Quando tudo e todos falharem e só restar a cruz então a alma percebe e se convence que só Deus basta.

Só então o seguidor de Jesus poderá dar a sua vida por ele, sem esperar nada em troca, amando o amor pelo amor. Edite Stein, a nossa santa de hoje recebeu a graça do martírio, por ser judia, membro do povo eleito, num dos momentos mais tenebrosos da história humana quando a fúria do mal atingiu níveis de realismo que nos aterrorizam, só ao pensarmos na possibilidade da sua existência. É a Cruz absoluta, porque sem sentido. Não se morre por nada e por ninguém, mas morre-se para satisfazer os instintos assassinos de homens que se transformaram em bestas apocalípticas. O dia a dia é a nossa cruz. Os deveres de nosso estado de vida, os nossos compromissos profissionais, o cuidado pelos que nos são próximos, são o lugar do nosso seguimento de Jesus.

Neste domingo, ao completar vinte e dois anos de ministério episcopal, rendo graças ao Deus da história, o Pai de nosso senhor Jesus Cristo que fez maravilhas no meio do povo a mim confiado, conduzindo a história destas duas Igrejas, Tefé e Manaus. Agradeço ao Senhor as cruzes que ele me deu cada dia. Peço a Ele que me ajude a continuar servindo as pessoas com alegria e disponibilidade. E quando chegar a hora, em que só Deus estiver comigo, que eu esteja preparado pela oração e contemplação dos mistérios da vida de Nosso Senhor.

 

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO EMÉRITO
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 09.08.2020

Gostou? Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on telegram
Telegram

Comentários