SANTIDADE – Artigo de Dom Sergio Castriani – Jornal Em Tempo 10.5.2020

Um jovem me pediu que eu escrevesse um artigo para dizer que santidade não é sinônimo de castidade. Para muita gente espiritualidade se resume em ter uma sexualidade regrada, e se esforçam com heroísmo para conseguir viver sem pecado, que no fundo é viver sem sexo. Quando se aproximam do sacramento da reconciliação são os pecados contra o sexto mandamento que contam para o padre. E vivem sempre atormentados por não conseguir resistir as tentações. Com o tempo a maioria se afasta da vida sacramental ou participa da vida eucarística sem confessar-se. Uns poucos chegam a ter paz nesta dimensão da vida.

Quando Jesus propôs o ideal de santidade aos seus discípulos com certeza não era isto que ele tinha em mente. Nós devemos ser santos como o Pai celeste é santo, e misericordiosos como ele é misericordioso. A castidade é uma consequência da santidade. Temos que nos educar para respeitar a nossa natureza humana que é uma maravilha, mas que também pode se degenerar. Ser santo supõem ser ético e a ética que nos é proposta por Jesus no Evangelho é a que se baseia na lei áurea de todas as religiões que podem ser admitidas como tal: não faças ao outro o que você não quer que façam para você e, de forma positiva, façam aos outros o que querem que façam para vocês. O santo é aquele que vive este mandamento com heroísmo, sacrificando seu bem estar e até mesmo perdendo a vida pelos outros.

Não é fácil conviver com um santo. Ele não é radical, mas coerente. Ele age com naturalidade, sem chamar atenção, fazendo o bem sem humilhar os pobres, porque é amigo deles e os trata com dignidade. Sabe como é difícil viver coerentemente num mundo marcado pelo egoísmo, pelo prazer e pela ostentação e, por isto, é uma pessoa que tudo desculpa e tudo perdoa. Pessoas assim são um dom de Deus para o mundo. São elas que permitem a humanidade continuar a ser humana. Não são perfeitas, porque a perfeição não é humana, é divina. Conheci alguns santos e santas que já partiram para a casa do Pai: Dom Luciano, bispo; Dona Maria Ortiz e Dona Marcelina, cozinheiras no seminário espiritano em São Paulo; meu pai, Aurélio, e minha mãe, Ana.

Hoje é dia das mães. Um velho padre holandês dizia que as mulheres que eram mães, sobretudo no interior já estavam salvas pelo simples fato de serem mães. Cuidar de uma criança, alimentá-la, vesti-la, educá-la não é fácil. O isolamento social destes dias tem aumentado a violência doméstica e os crimes de feminicídio, o que confirma o machismo da nossa sociedade. Crianças nascidas desta maneira já começarão a vida de uma maneira que não favorece um desenvolvimento normal. Temos que levar em conta a história das pessoas, a minha história pessoal também e levar em conta tudo o que a pessoa faz de bem, porque ninguém é só joio, como ninguém é só trigo. Somos uma mistura de graça e pecado, de liberdade e natureza, de bem e mal. Mas o que importa é o sentido que damos a vida. Está diante de mim viver uma vida doada, ou preocupada com o seu bem-estar, o seu bom nome, os seus projetos e outra vida vivida na perspectiva do outro.

 

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO EMÉRITO DA ARQUIDIOCESE DE MANAUS
JORNAL EM TEMPO

Data de Publicação: 10.5.2020

 

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