Aquele Jesus que vocês mataram, Deus o ressuscitou e o constituiu Senhor e Messias. Assim Pedro resume o evento pascal. O Espírito Santo fará os discípulos se recordarem das palavras de Jesus e examinando as Escrituras, depois da ressurreição, fica claro para eles que aquele que fora crucificado era o Messias anunciado pelos profetas. Mas o mais importante é que houve um grupo que se encontrou com ele, fez refeição e conversou com o Crucificado. E este grupo dava testemunho público.
No dia seguinte a ressurreição, o mundo continuou a girar como sempre. Mas as autoridades judaicas compreenderam muito bem o potencial transformador da mensagem daquele grupo de galileus e começou a perseguição. Não foi uma brincadeira ou uma simples troca de acusações entre dois grupos rivais dentro do judaísmo. Os seguidores de Jesus foram apedrejados como Estevão ou assassinados por grupos como o de Saulo de Tarso. Mas, quanto mais perseguidos, mais se multiplicavam chegando ao centro do Império Romano.
A força do Evangelho se explica, quando os evangelizadores tiveram um encontro pessoal com o ressuscitado e acreditando na própria ressurreição deixaram uma vida para trás. É a certeza da ressurreição que explica a coragem e a disposição daqueles homens e mulheres em enfrentar os poderes do mundo. Os mártires de todos os tempos e em cada geração cristã estão presentes, dão testemunho de que a vida é muito mais que esta vida que só vale a pena ser vivida se nos conduzir à vida plena em Jesus.
A natureza se renova, e depois do temporal vem a bonança. O mundo tem seus mecanismos naturais de renovar a vida natural que morre. Do ponto de vista natural e material, não há morte mas transformação. Mas o ser humano com sua personalidade e identidade própria experimenta a morte. O indivíduo morre e isto é quase insuportável, sobretudo quando há sentimentos de amor envolvidos. Mais ainda quando se morre prematuramente. Não dá para não sentir que não é justo que uns morram mais cedo que os outros.
No caso da pandemia que estamos vivendo, a história vai explicar um dia o que aconteceu e fará homenagem aos inocentes, e condecorará os heróis e, pouco a pouco, todos se esquecerão de todos porque é natural que de vez em quando uma peste dizime a população.
Qual é então o sentido da vida? Jesus foi enviado pelo Pai para responder a esta questão fundamental. Por que viver se a vida é tão frágil e tão injusta? Porque Deus nos adotou como filhos em seu filho que veio ao mundo para dar a vida eterna para todos. Podemos viver já na perspectiva da vida eterna, assumindo a vida de Jesus, vivendo como ele viveu. Jesus tinha certeza de que o Pai não o abandonaria e faria justiça. Nós cristãos queremos a vida para todos e lutamos pra que isto aconteça, mas sabemos que a vida que conta é a vida eterna que o Pai nos dá e nos dará. E, por isso, somos livres para amar a todos buscando a justiça e proclamando a verdade sem buscar recompensa porque já temos a vida eterna. Ela preenche o nosso coração e nos coloca à disposição de todos os que precisarem da nossa obediência à vontade do Pai. Tenham todos uma Feliz Páscoa!
ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO EMÉRITO DE MANAUS
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 11 e 12.4.2020