Foi lançada no dia 12 de fevereiro, durante coletiva realizada na sala de imprensa do Vaticano, a Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Querida Amazônia”, escrita pelo Papa Francisco, fruto de quase 3 anos de estudo e escuta dos povos indígenas, tradicionais, leigos, clero, enfim, de toda a igreja na Amazônia, levados ao sínodo dos bispos no Vaticano, no período de 6 a 27 de outubro, quando se refletiu e discutiu novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral.
Na exortação sinodal o pontífice destaca quatro sonhos para a Amazônia, como nos explica o Padre Luís Miguel Modino, que fez parte da equipe de comunicação da Rede Eclesial Pan – Amazônica e acompanhou de perto a reunião sinodal em Roma. “Podemos ver nos três primeiros sonhos (ecológico, social e cultural) a análise que ele faz da realidade Amazônica. Ele faz um diagnóstico a partir da realidade, de tudo o que foi vivenciado no processo sinodal, tanto na preparação, como na assembleia sinodal que nos ajuda a aprofundar ainda mais sobre a realidade amazônica e a vislumbrar elementos que podem ajudar a igreja da Amazônia a se fazer presente, de um modo melhor no meio dos povos”, explicou Pe. Modino.
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira, destacou na coletiva realizada em Brasília, após o lançamento oficial da exortação apostólica realizada pelo vaticano, que a Amazônia não é somente do Governo e os povos devem ser escutados para que a Amazônia seja do entendimento de todos. “Quando o Papa Francisco fala na não internacionalização da Amazônia, não diz para agradar governo nenhum e nem modelo de governo nenhum, diz porque a igreja entende da Amazônia. O Papa Francisco nos disse que é preciso ouvir que vive lá, portanto a Igreja compreende a partir de sua experiência, de seu trabalho […] é preciso diálogo para compreender as questões sociais e ecológicas, mas sem perder a sua soberania. Não por medo, mas por convicção. […] O Papa nos convida a sonhar e constrói sua exortação a partir de quatro sonhos. Do ponto de vista poético, sonhar é não aceitar que a realidade continue do jeito que está. A poesia nos ajuda de maneira muito decisiva e idealista a conceder caminhos novos para algo que consideramos não possuir as respostas adequadas”, destacou Dom Walmor.
Sobre a ordenação de homens casados, uma das pautas discutidas durante o Sínodo, Dom Walmor comenta que é um caminho que está sendo avaliado ao longo de 50 anos. “Talvez se esperasse isso como um decreto, mas é muito importante compreender que o Papa determinou que se faça um estudo e atualização do documento que diz respeito às questões de ministérios na igreja, de 50 anos atrás, portanto estamos em curso e não no final de um percurso, no caminho que é longo e estamos percorrendo com muita contemplação”, destacou.
Dom Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal Pan-Amazônia e relator do sínodo para a Amazônia, destaca um pedido de perdão do papa aos povos amazônicos. “O papa pede perdão, quando diz no número 19, que a Igreja não pode estar menos comprometida e é chamada a ouvir os clamores dos povos amazônicos para poder exercer com transparência o seu apelo profético. Entretanto não podemos negar que o joio se misturou com o trigo, pois os missionários nem sempre estiveram do lado dos oprimido, mais uma vez peço humildemente perdão, não só pelas ofensas da própria igreja, mas também pelos crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América e pelos crimes atrozes que se seguiram ao longo de toda a história, na Amazônia. Aos membros do povo nativo agradeço e digo que vós sois memória viva da missão que Deus nos confiou a todos: cuidar da casa comum”, destacou Dom Cláudio.
Bispo do Regional Norte 1 comentam a Exortação em coletiva de imprensa
Após acompanharem o lançamento da Exortação Querida Amazônia, os bispos do Regional Norte 1, também realizaram uma coletiva, na Prelazia de Itacoatiara, durante um encontro anual em se fazem presentes os bispos das nove prelazias e dioceses dos estados do Amazonas e de Roraima. Nesta, falaram com a imprensa o bispo da prelazia de Itacoariara, Dom José Ionilton Lisboa; o Presidente do Regional Norte 1 e bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira, Dom Edson Damian; e o bispo da Diocese de Roraima e 2° vice-presidente da CNBB, Dom Mário Antônio da Silva.
“Para nós da Amazônia é muito claro que o sínodo é um processo. Estamos em um processo sinodal desde 2017, desde a convocação, e tem suas etapas. Este é um momento de comunhão, de expressar o que somos como igreja e como cidadãos, habitantes nascidos ou não nessa imensa e amada Amazônia”, lembrou Dom Mário Antônio.
O Papa concluiu a exortação com uma oração à mãe da Amazônia, em um dos trechos ele fala: – “Mãe, olhai para os pobres da Amazônia, porque o seu lar está a ser destruído por interesses mesquinhos (…) Tocai a sensibilidade dos poderosos porque, apesar de sentirmos que já é tarde, Vós nos chamais a salvar o que ainda vive”.
O lançamento desta exortação coincidiu com o aniversário de 15 anos do martírio da Irmã estadunidense Dorothy Stang, da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora de Namur, sendo missionária no Brasil de 1966 a 2005, quando foi assassinada, no estado do Pará, por ser contra o desmatamento naquela região.
Por Rafaella Moura
Edição: Ana Paula Lourenço
Foto: Anna Ferreira – correspondente da Rede Vida em Roma