“A esperança dos pobres jamais se frustrará”. Este é o lema que o papa Francisco escolheu para a III Jornada Mundial dos Pobres que este ano cai no dia 17 de novembro, hoje, tendo sido precedida por uma semana de solidariedade, que começou no dia 10. O papa parece estar remando contra a correnteza, pois a pobreza tem aumentado, ao mesmo tempo que a injustiça social. Mas ele insiste na esperança que possibilita a vontade de viver melhor, porque acredita que a realidade não está determinada a ser como sempre foi, mas há uma força que move a história e que irrompe na vida das pessoas e dos grupos humanos.
Conheço o nosso povo e o compromisso que tem com os desvalidos de nossa sociedade. Nas nossas paróquias e comunidades não faltam a pastoral da solidariedade e as pastorais sociais que tentam minimizar o sofrimento dos irmãos menos favorecidos. E quantas vezes a ajuda se transforma num incentivo para a superação da pobreza. E se a situação de todos os pobres deste mundo não se resolve, há sinais de superação da miséria e da fome através da solidariedade e da partilha. Também a ação política das pastorais. Não se trata de apoiar partidos de esquerda ou de direita, mas exigir e promover políticas públicas que se tornem políticas de Estado e que visem defender os direitos das minorias e dos mais vulneráveis na sociedade.
Nesta semana queremos dar visibilidade ao pobre, mostrando que ele tem uma história, tem sonhos e não pode ser tratado só como objeto de nossa caridade. Existe uma ação caritativa que humilha e só serve para massagear o ego dos doadores. Para isto queremos conhecer aqueles que mesmo na pobreza vivem dignamente na solidariedade que alimenta a esperança cristã. Há dignidade humana no meio da pobreza. Os pobres são solidários entre s,i porque do contrário não sobreviveriam. Para nós são imagem e semelhança de Deus, carne de minha carne, parte de mim.
Neste domingo, a Arquidiocese, através de suas pastorais, estará realizando uma ação junto a população de rua e a que circula pela área da matriz. Haverá café da manhã, corte de cabelo, possibilidade de banho, rodas de conversa e uma celebração antes de ser servido o almoço. Graças a Deus que ações como esta se multiplicam em Manaus. Minoram o sofrimento, criam relações, e podem abrir perspectivas de vida para os assistidos. Para a juventude é bom participar de tais ações para ter um contato com a realidade cruel da vida de tantos irmãos nossos.
Durante a semana, organizamos rodas de conversa nas comunidades sobre o tema da pobreza. Em atividades já programadas tiramos um tempinho para falar dos pobres e de sua realidade, e da nossa responsabilidade social frente a pobreza crescente no mundo. A verdade é que são os pobres que participam das nossas comunidades, e seus membros estão empobrecendo. Como enfrentar juntos estes fenômenos? A comunidade pode chamar para uma conversa pessoas que estão em programas de erradicação da pobreza para contar a sua experiência. Chamar as pastorais sociais para que deem seu testemunho. Fazer uma partilha fraterna de uma refeição durante a semana. O importante é não fechar os olhos diante da realidade e, cheios de esperança que nos vem da fé, buscar soluções para as situações de pobrezas concretas que conhecemos.
ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 17.11.2019