Dom Sergio Castriani enviou ao Sínodo uma reflexão a respeito de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, lida por Dom José Albuquerque, na sala Sinodal, para todos os presentes, incluindo o Papa Francisco, na manhã do dia 12 de outubro.
Confira o texto na íntegra!
Meus irmãos e minhas irmãs,
Meus caros irmãos bispos,
Santidade,
É para mim um imenso privilégio ter esta minha reflexão lida na Aula Sinodal. Hoje 12 de outubro é o dia de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Imagem pequenina, achada miraculosamente nas águas do rio Paraíba, por pescadores que deviam oferecer o melhor de seus peixes a um viajante, o governador da Província de São Paulo. Mais tarde, vários milagres aconteceram, e aquela imagem pequenina enegrecida pela ação das águas se tornou o símbolo do amor maternal da mãe de Jesus pelo povo brasileiro.
O lugar se tornou meta de romarias e muito cedo se tornou a casa da mãe, onde não se vai apenas para passear, mas também e, sobretudo, nos momentos de dor e sofrimento que são tantos nesta vida. A grande multidão vai agradecer as graças recebidas. Ao redor da pequena imagem, ergue-se um templo ornamentado com mosaicos que lembram a teologia da criação e da história.
Em Aparecida, nos sentimos em casa, à vontade para exprimir os nossos sentimentos em relação a vida, e a presença da mãe de Jesus é evidente. Nos alegramos com as maravilhas que Deus realiza na vida das pessoas, tomamos consciência dos nossos pecados e da necessidade de conversão, pedimos as bênçãos de Maria para nós, para as pessoas que amamos e para o Brasil.
Quantas vezes nós rezamos pela Amazônia, pela Igreja que aí está e pelos povos que aí vivem? Uma Igreja que nas escutas em preparação do Sínodo se mostrou de rosto feminino, porque é coordenada nas suas bases por mulheres. O culto dominical sinal da presença de uma comunidade cristã é celebrado na maioria das comunidades por mulheres, que fizeram a transição de uma vivência da fé puramente devocional, para a celebração do mistério pascal. Cada domingo milhares de comunidades se reúnem lideradas por catequistas, ministras da palavra e da comunhão eucarística para ao redor da proclamação da Palavra, louvar o Senhor pelo mistério da nossa salvação. Depois são sobretudo elas que assumem as consequências deste anúncio para a vida comunitária organizando e pondo em prática programas de desenvolvimento sustentável. Uma Igreja assim lembra-nos a presença de Maria na história da evangelização.
Não foi por acaso que a Conferência de Aparecida colocou a Amazônia como uma das grandes preocupações pastorais dos bispos do continente latino americano. Em Aparecida, cercou-nos a religiosidade do povo, que tem uma relação muito próxima com os seus santos e com a mãe de Jesus. Esta relação que quando chega a Jesus nos transforma em discípulos missionários. Temos uma mãe e Aparecida é prova disto. Temos para quem correr nos momentos em que a crueldade quer nos aniquilar. Uma mãe que vela seus filhos.
Somos marianos e isto faz a diferença. Rezamos o rosário, a oração dos pobres que não necessitam livros, nem roupas especiais, nem rituais, mas simplesmente rezar a oração que Jesus nos ensinou e saudar Maria com a primeira saudação na qual seu filho é reconhecido como Senhor. Os puxadores de terço foram essenciais na manutenção de uma Amazônia católica.
Que a mãe de Jesus, frágil como as mulheres amazônicas, mas uma fragilidade aparente que se transforma em força gigantesca quando se trata de defender a vida, nos proteja da tentação de fazer da Amazônia uma terra de ganho e lucro, transformando o dom em mercadoria. Que a Igreja com suas mulheres reconhecidas na sua ministerialidade seja sempre uma mãe que cura e que liberta. Mãe Aparecida, rogai por nós.
Dom Sergio Eduardo Castriani – bispo de Manaus