No período de 3 a 7 de julho, aconteceu em Manaus a 22ª edição do Encontro Nacional do Movimento das Famílias dos Padres Casados (MFPC), trazendo como tema “Amazônia: novas esperanças para uma igreja renovada e a contribuição do MFPC”. O evento aconteceu no Centro de Capacitação Laura Vicuña – Casa Mornese, localizado na Avenida André Araújo, 2230 – bairro do Aleixo. Cerca de 60 participantes estiveram presentes entre padres e suas respectivas famílias.
De acordo com o Gerson Priante, que é padre casado, este é o primeiro encontro a nível nacional no Amazonas e neste ano completa 40 anos de existência, “o movimento surgiu como um espaço de acolhimento e escuta destes padres, além de estar junto de sua família participando e integrando”, disse ele.
Entre os temas abordados estiveram o Sínodo para a Amazônia, o trabalho do leigo na igreja, a presença feminina nas lideranças pastorais, entre outros. Também estiveram presentes o Pe. Ricardo Gonçalves Castro, diretor do Instituto de Teologia, Espiritualidade e Ensino Superior da Amazônia (ITEPES); a analista social, Lidiane Cristo, representando o Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (SARES); e o Professor Bibiano Simões Garcia Filho, que falou sobre a contribuição do Leigo na Ação Pastoral da Igreja.
Segundo Telma Spagnolo, casada com Fernando Spanolo há 39 anos, tem 3 filhos e 3 netas, residentes em Brasília – DF, o encontro em Manaus foi muito especial por fazer uma interação das famílias dos padres de outros estados com os da Região Norte. “Também tivemos contato com a realidade da Amazônia, da qual ouvíamos falar apenas por meio da mídia e isto foi mais enriquecido pelas reflexões e proximidade com o Sínodo Pan-Amazônico. Um encontro carismático e profético, também para o nosso movimento. Me tocou muito também a dedicação dos que organizaram, a simplicidade e a espiritualidade que vivenciamos neste Encontro”, disse ela.
Há cada dois anos é realizado este encontro que tem a participação de membros vindos de outras partes do Brasil, como Brasília, Maranhão, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Bahia e até de outros países, como Chile, Equador e Argentina. O evento encerrou com a celebração de despedida e, antes do almoço de confraternização, foi realizada a escolha do local sede para o 23° encontro, que será na Região Sudeste.
Esteve presente durante todo o evento presidente do movimento, Antônio Evangelista de Andrade, acompanhado de sua esposa. Segundo ele o maior objetivo do evento é buscar uma igreja de comunidade que acolhe as pessoas. “Não queremos uma igreja do altar, mas uma igreja do serviço, como bem nos pede o Papa Francisco, uma igreja em saída”, afirma o presidente das Famílias dos Padres Casados.
Carta Aberta
Nós, do Movimento das Famílias de Padres Casados – MFPC, reunidos no XXII Encontro Nacional de 3 a 7 de julho de 2019, em Manaus, Amazonas, para tratar do tema “Amazônia: Novas Esperanças para uma Igreja renovada e a Contribuição do MFPC”, com participação de representantes de vários estados brasileiros (Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Salvador, Santa Catarina) e de países latino-americanos (Argentina, Chile, Equador e Paraguai).
Aproximando-nos do Sínodo Pan-Amazônico, que chama a atenção do Brasil e do mundo para a realidade da Amazônia, como a situação dos povos tradicionais da Amazônia, que lutam pelo reconhecimento e demarcação de suas terras, ante o genocídio constante, o descaso com o cuidado de sua saúde e educação, o reconhecimento da soberania de seus representantes tradicionais, de sua cultura, modo de vida e línguas; e, a falta de uma política clara de proteção e sustentabilidade para a região, debatemos neste encontro o documento Instrumentum Laboris do Sínodo. Vemos claramente a necessidade de uma convivência da Igreja com as Comunidades Tradicionais, com outras denominações religiosas, com Organizações da Sociedade Civil e Comunidades, em prol da Região Panamazônica e sua população.
Em consonância com a proposta do Papa Francisco para o Sínodo, um grande contingente de padres casados encontra-se engajado em trabalhos pastorais, comunitários e em defesa dos direitos humanos e do planeta, alinhados com o conceito e o trabalho por uma Ecologia Integral, que abrange não só o território amazônico, mas também, engloba a sociedade, a política e a cultura.
Assim sendo, como Igreja em saída, encarnada na realidade dos pobres e participativa, reafirmamos os objetivos de nossa Associação Rumos: “promover o diálogo com instituições, organismos religiosos e sociais” e “promover ações para a construção de uma sociedade justa e fraterna”. Especificamente sobre a ação evangelizadora da Igreja, propomos, não só para o contexto amazônico, mas para todos os lugares que necessitam de evangelizadores: considerar a ordenação de homens casados, valorizar o exercício do ministério dos padres casados e suas famílias; desvincular a vocação presbiteral da disciplina do celibato obrigatório, tornando o celibato opcional, conceder o ministério ordenado às mulheres, dar poder de decisão e espaço de ação aos leigos em suas comunidades, como protagonistas da evangelização, trabalhar ecumenicamente com todas as expressões religiosas presentes nos territórios, sendo uma voz profética no mundo que promova a reforma metapolítica, democrática e ética da sociedade.
Todavia, propomos uma Pastoral Bíblico-Teológica que escute os clamores da Mãe Terra, sua mística e espiritualidade de cuidado e amor pela vida do vivo; assim, nosso encontro, além do aprofundamento do nosso compromisso e relacionamento familiar está plenamente inserido na preocupação da missão da igreja do Brasil. Neste sentido, constatamos que a formação dos padres após a Encíclica Pastores Dabo Vobis, deve se dar inserida, inculturada e encarnada nas realidades do pobre, do excluído, dos mais vulneráveis dos nossos países.