Agosto na Igreja católica é o mês das vocações. Nele se comemora o dia dos pais, o dia do padre, o dia dos catequistas, e ainda a Semana da Família, e um dia para a vida consagrada. Cada um destes dias tem seus objetivos e às vezes seus desvios, como o dos pais, que acaba sendo apropriado pelo comércio, mas que nunca deixam de ser ocasião de homenagens, de agradecimentos, de expressão de carinho e, sobretudo, de reflexão sobre a dignidade de cada uma destas vocações, do seu lugar na sociedade e na Igreja. Reafirmamos a urgência que temos em ter pais responsáveis e famílias bem constituídas que sejam ambientes saudáveis para o crescimento espiritual, psicológico, físico e social daqueles que são chamados à vida.
O mesmo se pode dizer dos padres, que para a Igreja são essenciais, pois garantem a celebração da Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã, e a partir da Eucaristia pastoreiam as comunidades anunciando a Palavra e a Caridade. E o que seriam as nossas comunidades e paróquias sem os catequistas, que garantem a transmissão da fé e a iniciação à vida cristã. Consagrados e consagradas completam o quadro. A vida religiosa, nas suas múltiplas expressões, enriquece a Igreja e a humanidade com seus carismas, dons e serviços que nos remetem ao Absoluto e ao universal, vividos na fidelidade e na alegria da consagração de toda a vida a Deus e aos outros.
Todas as vocações, também as que não são celebradas neste mês, têm um fundamento comum. A vida humana é uma resposta, por isto é responsável diante do Amor criador. Não existimos por acaso, existimos por que Alguém nos amou primeiro e continua a nos amar com amor eterno e gratuito, como é da natureza do amor. E o Amor só tem uma expectativa, ser amado. Ser amado a partir da liberdade radical que possibilita o amor. Por isso, a vida humana só tem uma realização possível, o amor. Não é à toa que o cristianismo e todas as grandes religiões apontam o amor mútuo como realização da natureza humana, mandamento maior, caminho de felicidade.
Possibilitar às crianças e adolescentes este caminho é a tarefa maior de toda educação. Destruir no coração de alguém a capacidade de amar é o maior dos crimes, e aí se igualam o pedófilo, que destrói a inocência; o traficante, que cria a dependência e escraviza; o corrupto, que roubando impede vida de qualidade; o Estado, que mata em guerras irracionais e geradoras de ódio. Para o cristão, cada ser humano é único, porque é imagem e semelhança de Deus. Toda destruição de vidas, toda violência clama aos céus, mas entre todas a mais perversa é a que se faz em nome de Deus e da sua justiça.
Um mês dedicado às vocações nos deve fazer mais humanos, e desta humanidade vivida em plenitude brotarão servidores que darão a vida para que outros tenham vida e a tenham em abundância, segundo a proposta de Jesus. Nestes tempos de definições políticas, este também é um critério de escolha. Os rumos que nosso país está tomando favorecem uma sociedade justa e fraterna ou só aumentam o ódio e a injustiça que é racista e violenta? Ficar omisso é concordar.
DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI
Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Manaus