Amai-vos uns aos outros é a ordem de Jesus que ecoa já por dois milênios na humanidade. Só seremos plenamente humanos quando esta ordem for cumprida. O que deve acontecer com a humanidade deve acontecer na vida de cada homem e de cada mulher criados à imagem e semelhança de Deus. Amar e ser amado é a única forma de encontrar a felicidade e realizar-se como pessoa. Mas também as instituições devem ser pensadas e estruturadas segundo o mandamento do amor, sob o risco de se tornarem desumanas e serem focos de corrupção e violência. Sendo assim a atividade policial, as estruturas de repressão ao crime e todas as instituições que visam a segurança dos cidadãos necessariamente devem funcionar segundo as regras previstas em lei. Mas a lei maior sempre será a lei do amor. Mas o que entendemos por amor?
Se é certo que o amor pode gerar sentimentos e levar ao prazer, também o ódio gera sentimentos e prazeres. Portanto, amor é outra coisa. Deus é Amor. Esta verdade nos foi revelada na vida de Jesus, quando ele que era de condição divina, não se apegou ao ser como Deus, mas se aniquilou a si mesmo, assumindo a condição humana até a morte, e morte de Cruz. E isto é amor. Somos convidados a fazer o mesmo percurso. Rebaixar-nos e humildemente reconhecer no outro um irmão, carne da minha carne e sangue do meu sangue. Reconhecer que o outro é gente e tem os mesmos direitos que eu, me ajuda a examinar minha vida e ver quem a está conduzindo.
Policiais são peritos em humanidade. Por ofício entram em contato com situações limites desde a mulher grávida que dá a luz na viatura policial, até os casos de abuso sexual de crianças que bradam aos céus pela crueldade e insensibilidade. As manifestações do mal fazem parte do dia a dia do policial. Mas também o bem que existe na criatura humana manifesta-se quando a vida corre perigo ou está ameaçada. E não é raro que policiais percam a vida no exercício de suas funções. É a hora que se cumpre o mandamento na sua totalidade, amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Quando um policial perde a vida no exercício das suas funções, acontece de novo o milagre do amor doação que redime a humanidade. Façamos memória dos policiais mortos em missão. Não podemos esquecê-los para que não pareça normal a barbárie e o terror.
Na vida fazemos muitas escolhas que vão dando a sua direção. Mas em geral as escolhas definitivas nos são impostas ou por desejos interiores, que nos impõem um caminho, ou por fatores externos que fogem ao nosso controle. A isto chamamos vocação e quem tem fé vê aí a Providência Divina. No Evangelho Jesus diz aos discípulos que não foram eles que o escolheram, mas que foram escolhidos por Ele. Quando se é policial por vocação isto fica evidente no comportamento e na maneira de ser dos homens e das mulheres a quem confiamos a nossa segurança. A capela da polícia militar, que está no quartel general da corporação, tem como padroeira Nossa Senhora Auxiliadora, cuja festa celebramos esta semana. Maria, a mãe de Jesus é exemplo da humanidade renovada pelo amor. Que ela proteja os policiais militares que oferecem a vida pela segurança de todos.
Homilia proferida na capela ecumênica da Policia Militar no dia 24 de maio de 2019.
Dom Sergio Eduardo Castriani – Arcebispo Metropolitano de Manaus