No dia do trabalho e do trabalhador, quando a Igreja celebrou São José Operário, a Cáritas de Manaus completou 57 anos de existência. Eram outros tempos, os tempos de sua fundação, em primeiro de maio de 62. A Cáritas teve como uma de suas primeiras missões distribuir leite e queijo que vinham dos Estados Unidos através da Aliança para o Progresso. Ainda em sessenta e quatro, ao entrar no seminário ganhávamos um queijo de cor laranja, que vinha da América do Norte e era distribuído pelos padres nas paróquias.
Com as mudanças no país, mudou também a Cáritas. Mas daquela época ficou a organização que se faz tão necessária nos momentos de emergência. Nas enchentes e nas longas secas, nas tragédias provocadas pelo fogo, nos momentos em que o desemprego desestrutura famílias, ou quando estas vivem o drama da doença, a caridade organizada mostra o seu valor. E quantas vezes, nestes 57 anos, a Cáritas foi acionada para organizar a coleta de alimentos e de roupas para quem tinha perdido tudo.
Dai-lhes vos mesmos de comer, disse Jesus. E a Cáritas organizou a caridade, possibilitando a todos partilhar na hora da necessidade. E fez isto, não para substituir o Estado, mas por exigência da fé. No entanto, o amor quer que o amado se liberte e este amor caridade levou a nossa instituição a procurar que as pessoas pudessem elas mesmas vencer as dificuldades. E vieram os cursos, o trabalho de conscientização política, a participação com outros grupos na busca dos direitos.
A Cáritas hoje, na Igreja de Manaus, tem missão de articular as Pastorais Sociais, que tem uma forte dimensão política. E bem antes de termos uma Campanha da Fraternidade sobre políticas públicas, a Cáritas estava atenta aos Conselhos Paritários e já participava de alguns.
A Cáritas existe por que a Igreja não existe para si, e não pode ficar indiferente ao sofrimento humano, de qualquer ser humano, tenha ele a religião que tiver, a raça que tiver, não importa suas opções políticas ou seu comportamento. E por que a Igreja quer ser eficaz, ela se organiza em Cáritas.
Acreditando na bondade fundamental do ser humano, por que tudo o que foi criado por Deus é bom, a Igreja sabe que é preciso curar as feridas, restaurar a inocência, fazer brilhar a justiça e o direito, onde eles foram destruídos pela prepotência dos orgulhosos. E isto é evangelizar, como fez o filho do carpinteiro de Nazaré.
Muitos não acreditam, como não acreditaram em Jesus. Dirão que os agentes se movem por interesses escusos ou que ganham muito com os projetos, ou que só fazem política. Só quem está envolvido sabe que quando a chama da caridade queima, deixa marcas para sempre. É impossível ver o mundo de outra maneira que pelo olhar de Jesus. É este olhar que faz ver em cada migrante um irmão, e de cada situação difícil um apelo para a ação.
Somos Cáritas, somos solidariedade, somos esperança. E após 57 anos queremos renovar nosso compromisso de sermos caridade organizada, inteligente, criativa, numa Igreja em saída, que não vive para si, mas para servir a humanidade.
ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 5.5.2019