Uma semana especial

Hoje todo o mundo católico dá início às celebrações da Semana Santa. Uma semana em que, na liturgia, a Igreja faz memória dos eventos salvíficos que constituem a vida cristã. No primeiro anúncio do novo caminho Pedro disse aos judeus que aquele Jesus que eles haviam crucificado, Deus o tinha ressuscitado e ele agora era o Senhor e Messias, e quem cresse nele seria salvo. Nesta semana é isto que se recorda: paixão, morte e ressurreição de Jesus. A celebração que abre a semana é a da procissão dos Ramos, seguida da Missa da Paixão. Embora a tradição goste de falar de uma entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, ela foi uma entrada hilária. Lá viram um homem sentado num burrico e os poderosos desse mundo andam a cavalo. Aquela entrada foi simbólica e tudo o que aconteceu depois já estava presente naquele acontecimento. Ao cantar hosanas ao Filho de Davi, que adentrava a sua cidade de maneira tão humilde, o povo reconhece em Jesus o Messias.

Nas outras celebrações o mistério será vivido de forma mais explícita. E é no tríduo pascal que entramos na dinâmica da redenção. Na quinta-feira, na Instituição da Eucaristia, o amor do Senhor pelos seus chega ao ápice e se transforma num sacramento que atravessa os séculos chegando até nossos dias pelo ministério sacerdotal exercido ininterruptamente por homens pecadores, mas que ungidos pelo Espírito continuam a repetir as palavras: “Tomai e comei, tomai e bebei”. Na sexta-feira, normalmente de manhã, se faz a Via-Sacra quando o caminho da paixão de Jesus se confunde com o caminho da humanidade sofredora. À tarde, uma liturgia solene e silenciosa recorda a morte de Jesus e o drama que a cercou. As representações da paixão se espalham pela cidade envolvendo jovens e adultos que se transformam em personagens bíblicos, criando um teatro popular que, como manifestação artística, nada deve aos grandes espetáculos. Paixão de Cristo, paixão dos homens, que se identificam com o Cristo sofredor, prolongando o seu sofrimento num mundo tantas vezes cruel.

A vigília pascal e o domingo de manhã coroam as celebrações. Para os cristãos a ressurreição de Jesus foi um fato histórico. Os discípulos o viram, comeram com ele, tocaram nas suas chagas. Suas vidas foram transformadas, perderam o medo e anunciar ao mundo que Jesus é o Senhor e o Salvador da humanidade. Vale a pena fazer um pouco de silêncio nesta semana. Mesmo para quem não tem fé, é bom contemplar o mistério da vida que se consome no amor. Um amor total que foi até a morte na Cruz. Jesus foi entregue, traído, condenado, porque ousou dizer que o Pai é misericórdia infinita, que todos somos iguais e que o perdão é para todos. Viveu o que pregou e foi tão humano que só podia ser Deus. Infelizmente, para grande parte da população esta semana tem um feriadão que, como todos os outros, será vivido no ócio de um vazio cultural que clama aos céus. A vida humana só é humana quando transcende a si mesma no espaço e no tempo. Independendo da fé que tenhamos ou não precisamos de tempos assim. O lazer é importante e até fundamental. Mas não é tudo.

 

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 14.4.2019

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