Quem não tiver pecado – Artigo de 7 de abril

O Evangelho desse quinto domingo da Quaresma nos coloca diante do episódio da mulher surpreendida em adultério e que prestes a ser apedrejada, como mandava a Lei, é levada a Jesus. Os que a levam não estão interessados na opinião de Jesus e na justiça, mas sim querem pegar Jesus em alguma contradição. Diante dos nossos olhos está toda a moral perversa que atravessa os séculos. A mulher é culpada quando as coisas acontecem. Ainda hoje, quando um homem de bem seduz uma menina, a primeira suspeita por incrível que pareça é exatamente a vítima. Décadas de feminismo não tem sido suficiente para mudar a prepotência masculina. O fenômeno do feminicídio é crescente e um sinal de alerta para todos nós.

Sexo sempre foi espetáculo. Imaginemos um tempo onde não existia a pornografia e a exposição da vida das pessoas como hoje. O papel da imaginação era bem maior. Podemos vislumbrar os comentários a respeito da adúltera. Tudo isto deixa Jesus indiferente. Como podemos ser sórdidos ao comentar a vida alheia. Facilmente se esquece a dignidade da pessoa. Este era o clima em volta de Jesus. Onde estava o adúltero? A justiça humana é sempre seletiva. Hoje temos a impressão de que todos são iguais perante a lei. Na Igreja assistimos à condenação de cardeais e de centenas de padres por pedofilia e abuso sexual. A imprensa do mundo todo se deleita em acusar membros da Igreja Católica pegos em flagrante. Não importa se vidas serão destruídas, se as punições serão desproporcionais, importa sim o impacto midiático. Casos de cinquenta anos atrás são apresentados como se tivessem ocorrido semana passada e as pesquisas feitas nos arquivos da Igreja são publicadas como revelações de segredos guardados a sete chaves. Num mundo onde tudo é permitido, nada é perdoado, todos estamos sujeitos à calúnia e a difamação.

Diante das acusações feitas a sacerdotes, bispos e até cardeais, a primeira reação é a de vergonha. Afinal, somos membros do mesmo corpo, celebramos os mesmos sacramentos, professamos a mesma fé. Depois vem a pergunta: seria eu melhor que eles? Se eles puderam fazer isto, eu também podia ter feito. A seguir, sinto um orgulho de ser católico e de pertencer à Igreja de Jesus que não tem medo da verdade e que pode demorar, mas faz justiça. Ninguém deveria se sentir livre para ter comportamentos imorais em função de cargos e do poder que eventualmente tenha. Sexo, poder e dinheiro fazem uma combinação explosiva que tem destruído vidas ao longo dos séculos. A Igreja, que vivendo no mundo, está sujeita às tentações e não deve nunca baixar a guarda sob pena de cair nelas.

Neste tempo de purificação em que damos uma atenção maior às vítimas e a tolerância zero em relação à pedofilia e aos abusos sexuais deve ser a norma, não nos esqueçamos da atitude de Jesus diante da pecadora arrependida e envergonhada e da advertência do Mestre: Quem não tiver pecado…. É fácil atirar pedras e até agradável destruir reputações, o difícil e viver uma vida de castidade que arraste os outros pelo exemplo de coerência e fidelidade.

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 7.4.2019

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