Missionários – Artigo de Dom Sergio – Publicado em 31/3/2019

Numa tarde chuvosa do inverno do ano dois mil chegaram à Manaus três missionários católicos. Um jovem de dezoito anos que trazia no peito uma cruz imensa, uma senhora que trazia na bagagem um aparelho de televisão e uma moça afrodescendente que chamava atenção pela simpatia. Vinham acompanhados pelo bispo de São José do Rio Preto e pela secretaria executiva do Regional Sul 1 da CNBB, que corresponde ao Estado de São Paulo. Eles esperavam no aeroporto os bispos de Tefé e a secretaria executiva do Regional Norte I da CNBB, que na época se estendia pelo Acre, Rondônia, Roraima e Amazonas. Estavam a caminho da Prelazia de Tefé onde assumiriam a responsabilidade de uma paróquia que estava há um bom tempo sem nenhum agente de pastoral residente. Os dois regionais estavam envolvidos na missão.

A história confirmou que a intuição do bispo de confiar uma paróquia a um grupo de missionários leigos estava correta. Durante doze anos, a cada três anos os missionários foram se sucedendo na paróquia que renasceu e teve neste período uma fecundidade impressionante. O jovem missionário hoje é padre, a senhora voltou depois como missionária enviada pela sua diocese, e a jovem afro voltou à missão integrando outra equipe. Infelizmente por várias razões os leigos foram rareando.

Todo este movimento era parte do projeto missionário Sul 1 – Norte 1, um projeto que começou a vinte e cinco anos e brotou do coração dos bispos do Estado de São Paulo sensibilizados pela situação da Igreja da Amazônia. A motivação missionária foi o mandamento de Jesus de nos amarmos uns aos outros. As religiosas que vieram formavam equipes Intercongregacionais e os sacerdotes no início também faziam parte de uma comunidade missionária. Houve problemas de relacionamento, como em qualquer grupo humano. Missionários não são perfeitos, são chamados à santidade. O projeto procurava ser fiel às grandes inspirações teológicas da época. Ninguém envia a si mesmo. É sempre uma Igreja que envia e que assume as responsabilidades pelo missionário. Do ponto de vista da formação dos missionários, o projeto sempre exigiu participação de todos nos cursos do Centro Cultural Missionário. Já como arcebispo de Manaus, conheci a paróquia no Manaquiri. Fiquei impressionado com a organização das comunidades e com o nível das lideranças. Sem dúvida nenhuma, é fruto também do trabalho das irmãs. O projeto também possibilitou a congregações pequenas uma primeira experiência missionária. Algumas congregações se estabeleceram na Arquidiocese.

Os tempos são outros. Toda a Igreja se volta para a Amazônia quando um Sínodo acontece pela sua evangelização e seu tema. Os dois regionais tem uma história para contar e uma experiências de evangelização a partilhar. Muitos sonhos se mostraram pura ilusão, mas a força do Reino também se manifestou de forma concreta na vida das comunidades e dos missionários. É hora de reforçar o projeto, voltando as suas inspirações iniciais. O amor pela casa comum e pelos povos que nela habitam será fonte de generosidade e criatividade na ação missionária de nossas Igrejas.

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 31.3.2019

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