Religiosas

Dia dois de fevereiro foi o dia da vida religiosa consagrada, daqueles e daquelas que são conhecidos como irmãos e irmãs. Nesta semana participei da celebração em que Ir. Ivone, agostiniana recoleta, fez os votos perpétuos. É um prazer celebrar nestas ocasiões solenes para a vida religiosa. Mas é muito melhor quando partilhamos a vida ao redor da mesa. Gostaria de ter mais momentos de convivência com as comunidades religiosas. A vida não permite. Mas sem dúvida nenhuma o testemunho de vida comunitária aberta aos pobres é o primeiro gesto profético da vida religiosa na Amazônia. A casa das irmãs torna-se um lugar sagrado porque aí as pessoas são ouvidas e recebidas com dignidade. A pobreza torna-se partilha e a obediência disponibilidade.

O rosto amazônico da Igreja é um rosto feminino. São as matriarcas que guardaram a fé católica da população. Na Prelazia de Tefé, entre outras, cito Dona Raimunda, de Itamarati; Dona Baiaco, de Uarini; Dona Zuleica, de Maraã; Dona Joaquina Brito, de Alvarães. As coordenações das pastorais e das comunidades em grande parte está com as mulheres. Da mesma forma a vida religiosa. A nossa espiritualidade católica é mariana. Reconhecer isto e deixar-se impregnar por ela é condição de continuarmos a ser uma Igreja misericordiosa e atenta aos sofredores e miseráveis. As religiosas estão na linha de frente. Um destes dias, ao ler o jornal, deparei-me com a notícia da palestra que a teóloga Inaja havia feito num encontro sobre a bacia do Tarumã Açu. Só quando vi a foto identifiquei a nossa irmã que vive na comunidade de Fátima do Tarumã. É a presença da Igreja no mundo. Senti orgulho e satisfação por fazer parte desta história. Tenho consciência de que as irmãs não estão em busca de reconhecimento, mas é bom ser notícia de vez em quando, sobretudo se a notícia é boa.

Como religiosos, e aqui eu me incluo, creio que temos que ter algumas fidelidades, se quisermos ser relevantes. A primeira é a pobreza. Uma vida sóbria e comprometida com os mais pobres. Examinemos quem são nossos amigos. A segunda é a vida comunitária como expressão concreta do voto de obediência. A terceira é a castidade vivida na alegria e na liberdade e que possibilita amar a todos. São os votos que professamos publicamente.

Uma última reflexão é sobre a relação com a Igreja local. A nossa missão só tem sentido na comunhão eclesial. A Igreja é o Corpo de Cristo. A comunhão é com todo o Povo de Deus. Às vezes nos esquecemos disto no discernimento e fazemos o povo se sentir rejeitado, quando não, enganado por nós que o seduzimos e depois os abandonamos.

Termino expressando minha gratidão pessoal a todos e todas. Sinto-me parte desta família. E também digo obrigado, como arcebispo de Manaus, por vocês serem o que são na nossa Província Eclesiástica. Perdoem as incompreensões e os mal entendidos, que me parecem poucos. Não deixem morrer a profecia e nem a esperança. Sejam irmãos, irmãs e mães do nosso povo, aí incluindo os nossos padres, nossos seminaristas e os nossos bispos.

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 10.2.2019

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