Advento

Neste tempo as cidades se enchem de luz e os motivos natalinos enfeitam ruas, praças e casas. Os estabelecimentos comerciais, colaborando para um ambiente que respira amizade, alegria, esperança e solidariedade, esperam movimentar seu capital e aumentar seus lucros. Sem sombra de dúvida é o momento mais bonito do ano e dificilmente conseguimos ficar imunes ao espírito do Natal, vivido mesmo por não cristãos.

Curiosamente, na liturgia católica, os celebrantes se revestem de vestes roxas e os rituais têm um sabor penitencial com forte apelo à conversão e à mudança de vida. Na liturgia da Palavra ressoa a voz do Batista, anunciando a proximidade do Reinado de Deus e a necessidade de uma mudança radical para que possamos acolhê-lo e sermos nele acolhidos. O anúncio deste tempo é claro e exigente: Deus visita o seu Povo e intervém na História. A grande intervenção, que se deu na plenitude dos tempos foi a Encarnação do Verbo. Esta vinda ao mundo que se radicalizou na Cruz e se completou na Ressurreição é celebrada no Natal. Recordamos fatos históricos, reais, radicalmente humanos.

A arte nas suas mais diversas expressões faz deste fato histórico o mais representado, cantado, transformado em versos e em teatro. Nunca nos cansaremos de celebrá-lo, pois nele nos encontramos todos com nossos sonhos, esperanças e amores. Esta intervenção radical em que o mistério divino invade, penetra e transforma o mistério humano ilumina tantas outras vindas que acontecem no dia a dia, visíveis apenas ao olhar da fé. O mistério do natal acontece sempre que o ser humano transcende os seus limites marcados pelo egoísmo e se deixa transformar pela solidariedade, permitindo que o outro seja a medida do seu sentir e do seu agir. É normal que neste tempo de advento, de recordação da vinda do Senhor sejamos todos mais solidários e fraternos, percebendo situações normalmente invisíveis aos nossos olhos.

Mas a Igreja espera a vinda definitiva do Senhor, professando a fé naquele que há de vir para julgar vivos e mortos. A História tem um sentido, que está no encontro definitivo do Criador com as suas criaturas. Um futuro que na literatura apocalíptica já é presente, pois a vitória definitiva já aconteceu na Cruz. O tempo do Advento é um convite à superação de limites e egoísmos que nos tornam pequenos e tacanhos.

A memória da primeira vinda de Cristo, a lembrança da grande visita e a expectativa da vinda definitiva nos tornam atentos às visitas que Deus constantemente nos faz. Se abrirmos os olhos e permitirmos que o Espírito nos ilumine, daremos constantemente glória a Deus que visita e liberta o seu Povo, e estas visitas nos transformarão e nos farão viver a vocação humana que desemboca no mistério de Deus. A alma, sedenta de plenitude e cheia de nostalgia repetirá o grito que já atravessa dois milênios: Vem Senhor Jesus! Nós já o conhecemos da gruta de Belém, já o vimos caminhar entre as aldeias da Galileia, escutamos sua voz e conhecemos suas histórias, sabemos que foi rejeitado, e fomos avisados onde o encontraríamos. Que as luzes não ofusquem a Luz.

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 02.12.2018

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