Imagens Sacras: Restaurando o passado, pensando no futuro

Restauração da Igreja da Matriz e da imagem de Nossa Senhora da Conceição, Santo Antônio de Borba; Nossa Senhora do Rosário, em Itacoatiara; Nossa Senhora do Rosário, em Boa Vista (RR); presépio da igreja de São Sebastião, são apenas alguns exemplos de obras sacras que foram restauradas pela equipe da dona Judeth Costa, gerente do Ateliê de Conservação e Restauro de Obras de Artes e Papel da Secretária de Estado de Cultura do Amazonas (SEC – AM), que funciona no Palacete Provincial, antigo comando da polícia, localizado na Praça da Polícia – Centro.

O trabalho com obras de artes religiosas começou em meados do ano 2000, por meio do projeto Manaus Belle Epoc, que trabalhou com o restauro de grandes obras históricos de Manaus, como o Teatro Amazonas, Largo São Sebastião e também, a igreja da Matriz, de lá para cá, Judeth e sua equipe já prestaram consultoria em muitas igrejas da Arquidiocese de Manaus e até de fora do Estado, segundo ela, um dos trabalhos mais marcantes foi o de Santo Antônio de Borba. “A festa de Borba é uma das mais conhecidas e tradicionais festas católicas que reúne um grande volume de fiéis, por isso foi tão impactante trabalhar na restauração, que começou com a nossa ida ao município para fazer a avaliação da imagem e dar as dicas de como fazer a remoção para Manaus e como eu sou devota de Santo Antônio, foi realmente foi muito emocionante”, comentou.

Ainda de acordo Judeth, no Brasil, as grandes “escolas de santeiro” ficavam na Bahia e no Maranhão, mas os santos que vinham para cá, geralmente vinham de Portugal ou da Espanha e, quando se sabe a história de uma peça, torna mais fácil o trabalho do restauro. “Cada escola de santeiro têm uma característica própria, sua forma de deixar seu registro, pois a igreja católica catequisava por meio de imagens, por isso que naquela época eram produzidas muitas esculturas e todas feitas de maneira artesanal e por encomenda, daí ter um valor único, diferente de hoje em dia que é tudo industrializado e a produção é feita em série”, disse.

Atualmente ela e sua equipe estão trabalhando no restauro de cinco imagens sacras, sendo três da igreja do Sagrado Coração de Jesus. Para ela a igreja deveria formar uma comissão com historiador ou restaurador para documentar todas as obras. “A Igreja é a base da nossa história e uma imagem não é só uma imagem, tem todo o significado, uma importância e um valor sentimental. Por isso tomamos todo cuidado e esperamos que quando a obra saia daqui, vá para um lugar seguro, onde outras pessoas também possam ver e as gerações futuras possam ter o privilégio de usufruir como tivemos. O ideal mesmo seria se fazer um inventário dos bens da igreja católica, formar uma equipe coordenada por alguém que goste de patrimônio e saiba o valor que eles têm”, concluiu.

Importância do restauro

Segundo Judeth, que é formada em artes pela UFAM e fez Especialização em restauro na cidade italiana de Florença, o restauro começa pela informação, se a obra tem documentação, se foi doação ou a igreja que comprou. Sem falar que é um trabalho minucioso, não é um simples retoque, os materiais são caros e vem de fora (São Paulo, Itália, Alemanha) por isso o processo do restauro tem de obedecer aos critérios éticos e estéticos da profissão e assim respeitar o máximo, as características da obra original, que envolve muito conhecimento das técnicas, estudo e pesquisa, para saber como os santeiros da época faziam e assim, fazer a restauração o mais fiel possível.

“O restauro é um trabalho multidisciplinar, temos que ter conhecimento de arte, história, química, biologia, arquitetura, arquivologia, arqueologia e, no caso de obras sacras, também temos que ter o conhecimento das ordens e congregações religiosas, para saber, entre outras coisas, o tipo de vestimenta dos santos, para assim ser o mais fiel possível na hora da restauração”, explicou a restauradora.

O foco do trabalho é o homem

Apesar de todo esse apanhado de conhecimento em várias áreas, pode-se afirmar que o verdadeiro foco do trabalho do restaurador está no ser humano, que será o grande apreciador da obra que vai se perpetuar para as próximas gerações todo o aprendizado que vem de anos, por meio do estudo das técnicas dos grandes artistas, daí vem a ideia de quem sabe futuramente a arquidiocese montar seu próprio museu, conforme explica a restauradora.

“Não adianta a gente ter um trabalho cuidadoso para restaurar, se não tivermos o homem para apreciar, pois toda obra de arte que restauramos, foi uma pessoa que fez, é a obra de um artista para outro ser humano, é o passado servindo de base para o futuro por meio de estudos, pesquisas e conhecimento. O museu seria o espaço onde todo os momentos registrados por meio de imagens, fotos, pinturas, esculturas e demais formas de arte, ficam para a eternidade”, disse.

  

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