O Presidente

Estava em São Paulo quando o presidente eleito do Brasil, Tancredo Neves morreu naquela cidade, no Hospital das Clínicas, depois de uma longa doença, oficialmente provocada por uma diverticulite que terminou numa infecção generalizada. Os que participaram do cortejo fúnebre tiveram a nítida sensação que o Brasil perdia um pai, um benfeitor, um amigo. Não importava o fato de ele ter sido eleito numa eleição indireta. Era o símbolo de uma nação que sonhava com liberdade, desejo que se materializara na luta por eleições diretas, e que de repente viu nos braços do Sarney, cuja adesão às forças removedoras tinha sido recente. E deu no que deu. Avançamos, mas onde teríamos chegado se Tancredo tivesse exercido a presidência?

O presidente representa a nação e isto lhe confere uma imensa responsabilidade. Suas palavras e gestos pesam. Mas ele tem uma responsabilidade mais corriqueira que é o de manter o país funcionando. São centenas de cargos que dependem da sua assinatura. É claro que ele pode delegar e em alguns casos deve, mas a responsabilidade última é sua. Esta atividade deve ser extremamente desgastante mas aí se joga, em grande parte, o sucesso de uma administração. Aí mora o perigo dos totalitarismos que vão tomando o poder na surdina e anulando qualquer tipo de oposição. Isto se evita com os concursos e com a formação de funcionários públicos que sejam servidores do bem comum e não aproveitadores da coisa pública.

O presidente é também o nosso primeiro embaixador e hoje em tempos de mercado o nosso representante comercial por excelência. Ele tem que saber endurecer nas negociações quando necessário mas também fazer concessões sempre que possível. De um presidente do Brasil se espera que seja religioso e que respeite as várias tradições religiosas e o Estado laico. Que seja um estadista e que não comece a preparar a sua reeleição logo depois da posse. Que pense grande e se cerque de homens e mulheres sábios. Que coloque a defesa dos pobres contra o grande capital como um farol que indica o rumo de seu governo.

Escute o povo e não se deixe enganar pela corte bajuladora que vai se formar ao seu redor. Leve uma vida sóbria, sem luxos desnecessários. Cuidado com o que fala, porque ao menor deslize e todos cairão em cima. O salmista pediu a Deus três coisas que depois de milênios ainda são necessárias para quem exerce autoridade: bom senso, retidão, sabedoria. Lembre-se que não há nada mais fugaz que o poder, Daqui a quatro anos ou mesmo antes você sairá de cena e será um nome a mais na lista que hoje nem os alunos das escolas públicas decoram mais. Lembre-se que milhões de pessoas não o escolheram e teriam preferido um outro. Você continua um simples mortal que pode ser nocauteado por um vírus ou uma bactéria. E quando tudo acabar você terá ao seu lado os familiares, alguns amigos e as lembranças do bem que você fez às pessoas. E será a gratuidade que vai ser perene. No segredo do teu coração agradecerás a Deus coisas que ninguém viu. É terminarás teus dias sem amargura e ressentimentos que só destroem. Que Deus proteja o presidente do Brasil!

 

MATÉRIA DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 28.10.2018

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