Maria de Nazaré

Maria, aquela que, nas palavras inspiradas do poeta, o povo inteiro elegeu Senhora e Mãe do céu. A piedade popular reserva para a mãe de Jesus um lugar privilegiado. Em qualquer celebração católica, sobretudo as populares, Nossa Senhora é invocada sob os mais diversos títulos, em Ave Marias que se sucedem e vão demonstrando a confiança na presença e na proteção materna daquela que por desígnios misteriosos participou, bendita entre as mulheres, do mistério da encarnação do Verbo.

Quando Deus entrou na história assumindo a condição humana, quis a participação desta mesma humanidade, representada na pessoa de uma moça do povo. Encarnar-se teve como consequência viver numa família, ser amamentado, educado, cuidado. E durante todo este processo sua mãe estava lá, guardando tudo no coração. Esta mesma mãe aparece na vida publica elogiada por causa do Filho, mas colocada ao lado dos que ouvindo e praticando a palavra experimentam a alegria do reino. A vida de Jesus transcorre sob o olhar atento da mãe que antecipa os sinais numa festa de casamento e que está presente junto com o amigo na hora definitiva do último sinal. Testemunha do amor que foi até as últimas consequências, recebe aos pés da cruz a missão de ser mãe da comunidade que nasce do sangue derramado. Permanece com esta comunidade aguardando a manifestação do Espírito, o dom do ressuscitado.

Na experiência de fé católica não se separa a fé em Jesus Cristo da devoção mariana. São duas faces da mesma moeda. Rezar a Ave Maria, é saudar a mãe proclamando a fé no Filho que a faz bendita. Invocar a mãe de Deus é expressar a fé na divindade de Jesus, plenamente humano porque filho de uma mulher e plenamente divino porque gerado pelo Espírito. Negar isto, minimizando ou até ridicularizando a figura de Maria é descaracterizar o Evangelho, a Boa Nova.

No canto que a jovem mãe, ainda grávida, canta ao encontrar-se com a prima Isabel, o Evangelho exprime toda a consciência de Maria a respeito de si mesma, da história e do povo ao qual pertence. Tudo é graça, uma graça que faz maravilhas na vida dos pequenos, dos humilhados, dos famintos. Deus está do lado deles quando dispersa os poderosos e despede os ricos sem nada. O Deus de Abraão é fiel, e sua fidelidade permanece para sempre. Para o povo brasileiro esta fidelidade se manifesta na pequena imagem enegrecida, achada durante uma pescaria e proclamada Aparecida, a Rainha do Brasil. Sua casa é a casa de todos, mas, sobretudo dos pobres e dos sofredores. O cuidado de Deus se exprime na Virgem de Nazaré, cuja proteção os povos da Amazônia invocam.

Neste ano as duas comemorações se aproximaram, Nazaré e Aparecida, a mesma mãe, duas imagens pequeninas, ornadas com mantos preciosos e coroadas pelos devotos, que são milhões. Cada vez que participo de procissões, celebrações e grandes eventos em honra de Maria, mas também quando na intimidade invoco a Senhora com a saudação da Ave Maria e com a intercessão Santa Maria, fico maravilhado com a misericórdia divina que se mostra tão humana. Neste ano rezamos pelo Brasil, para que os eleitores demonstrem bom senso, retidão, sabedoria.

 

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
PUBLICADO NO JORNAL EM TEMPO
Data de Publicação: 21.10.2018

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