Neste 4 de outubro, Dia de São Francisco, santo protetor dos animais, da natureza, propagador da paz, da humildade, do bem e do serviço a favor do irmão e de toda criação de Deus foi celebrado de uma forma bastante humanitária: a paróquia dedicada ao santo, localizada no bairro da Colônia Oliveira Machado, Zona Sul, organizou um almoço coletivo para famílias carentes da cidade, entre eles pessoas em situação de rua.
A iniciativa é realizada há seis meses, sempre no dia 4 de cada mês, explica o padre Geraldo Bendaham, pároco da Igreja de São Francisco das Chagas. E, desta vez, coincidiu com a data em homenagem a um dos santos mais populares da Igreja Católica onde, segundo a crença, fez votos de pobreza e herdou as chagas de Jesus Cristo pregado na cruz.
“As pessoas que vieram almoçar aqui são os verdadeiros Franciscos, os outros Franciscos, e trazem graves problemas: perderam famílias, não têm casa, moram na rua. São ‘sobras’ da sociedade, uma realidade concreta, mas que torna-se invisível para a sociedade”, disse o padre Geraldo Bendaham, pároco da Igreja de São Francisco das Chagas.
Algumas pessoas já trazem as chagas no nome, como o carregador de mercadorias do Porto de Manaus, Marcelo Chagas, 37. No seu caso, a pobreza se reflete na moradia: ele está em situação de rua, e aproveitou para vir almocar um suculento tambaqui frito com arroz, feijão e farofa, com refrigerante e água de acompanhamento.
“Não tenho palavras para falar, atos assim são sem explicação”, disse ele, emocionado e natural de Castanhal (PA). “Fui parar na rua por buscar diversão nas drogas e bebidas. É a terceira vez que eu venho almoçar aqui”, detalha Chagas.
Francisca
Com nome do santo, a auxiliar de cozinha Francisca Ralcherles Souza Sena, 38, trouxe os filhos de 8 e 9 anos e um de 11 meses para almoçar. Mais dois deles, ambos de 17 anos, ficaram em casa.
“Para mim foi a melhor coisa que eles fizeram pois muitas pessoas não tem nada para comer em casa. Nem todos os dias temos essa comida. Hoje eu estou de folga e trouxe as crianças. É uma doação nota 1000”, comentou ela, moradora da própria Colônia Oliveira Machado.
Francisca já foi devota de São Francisco, depois passou a frequentar igrejas evangélicas e hoje não tem uma religião definida. Curiosamente, ela tem dois irmãos que tem o nome do santo franciscano, herança da mãe, esta, sim, devota fervorosa dele.
Assim como nos versos da conhecida oração de São Francisco, quem foi no almoço encontrou verdade e esperança: “Onde houver erro, que eu leve a verdade / Onde houver desespero, que eu leve a esperança / Onde houver tristeza, que eu leve a alegria / Onde houver trevas, que eu leve a luz”.
Frase
“Os que vieram almoçar aqui são os verdadeiros Franciscos, os outros Franciscos, e trazem graves problemas”, diz Padre Geraldo Bendaham, pároco da Igreja de São Francisco das Chagas.
Blog: Padre Geraldo Bendaham, pároco da Igreja de São Francisco das Chagas
“São Francisco viveu a experiência cristã do Evangelho. Sua vida, na sua época, já foi uma inspiração, e até hoje continua inspirando por exemplo pessoas da ecologia, cientistas, crentes e que professam inclusive outras religiões. Hoje, mais de 800 anos, continuamos a olhar para Francisco porque ele foi pessoa extremamente apaixonada pelo mundo, numa visão integral. Isso é muito imporante. Hoje tende-se a se fragmentar a realidade. Francisco olhou de forma integral e global. Por exemplo, quando ele estabeleceu uma visão universal dizendo: “Irmão Sol, irmã Lua, irmão Água”. Foi o amor à criação, tanto que ele tem o ‘Cântico das Criaturas’, onde canta o louvor à toda a natureza, especialmente às pessoas. E ele abraçou o leproso, pra dizer que abraça os excluídos. Francisco é um caminho de fé, de amor, mas também de amor à criação”.
Texto: Paulo André
Publicado em Portal A Crítica
em 04/10/2018
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