Bispos da Amazônia Legal

Esta semana para a Igreja de Manaus será um tempo de graça. Os bispos da Amazônia Legal estarão reunidos na Maromba.  Uma maromba é o lugar em que o ribeirinho guarda o gado no tempo da cheia e da alagação esperando que as águas baixem e, tendo recuperado fertilidade, recebam de volta o rebanho e as sementes das hortaliças que trarão fartura. Lembra o ritmo da vida na várzea que marca a vida de uma grande parte dos povos da Amazônia. No entanto, nossa Maromba está situada entre as duas grandes avenidas que ligam o centro de Manaus com a zona oeste e norte da cidade, é um resto de floresta que sobrou no processo de urbanização que matou os igarapés, que tem como sepultura avenidas onde circula um trânsito, na maior parte do tempo, congestionado e caótico.

Neste local onde pulsa o coração de nossa Igreja local e regional, pois aqui o Povo de Deus se reúne em assembleias pastorais e em retiros espirituais, os pastores da Amazônia vão mais uma vez colocar em comum a alegria do Evangelho vivido nesta parte do Brasil. Uma alegria serena que não esconde os grandes desafios que enfrentam nesta tarefa que vai além das forças humanas. O que os move é a esperança em Deus que não abandona a sua criação e sua criatura mais querida, o ser humano.

Este encontro reveste-se de uma importância ímpar porque se realiza às vésperas de dois sínodos cuja temática nos toca de maneira especial. Juventude e Amazônia são realidades que se complementam. A nossa população é ainda jovem e nossas igrejas tem na juventude uma fonte de dinamismo de dar inveja. Ao mesmo tempo é a juventude a primeira vítima da depredação da natureza que transforma nossas periferias em celeiros de usuários e traficantes que se matam sem dó e piedade. Só haverá futuro para a Amazônia se conquistarmos os corações dos jovens para as suas grandes causas, que podem ser resumidas na salvaguarda da casa comum onde todos possam viver com dignidade.

Os bispos sonham com uma igreja de rosto amazônico. Esta Igreja já existe nas comunidades que se formaram e se fortaleceram a partir do encontro de Santarém. As organizações indígenas com as quais a Igreja católica colaborou e colabora, o compromisso com a luta pela terra, por saúde e educação diferenciadas marcam a pastoral indigenista. O envolvimento em projetos de desenvolvimento sustentável a partir da fé, e a luta por melhores condições de vida nas grandes periferias urbanas marcam a nossa Igreja.

No coração dos pastores, estará presente o atendimento e o acompanhamento pastoral das comunidades que tem direito de serem alimentadas pelo pão da Palavra e pelos sacramentos. Crescemos muito nos ministérios leigos, formamos catequistas, dirigentes de celebração, animadores de comunidades, ministros da palavra, das exéquias e da sagrada comunhão. Formamos e ordenamos um bom número de padres diocesanos e diáconos permanentes nos últimos tempos e temos já um clero local que, se não é numeroso, tem identidade própria. Mas as necessidades ainda são grandes e as nossas características regionais exigem soluções diferenciadas. Tenho certeza que este encontro fará história como os precedentes, pois quando estamos unidos o Espírito Santo age.

 

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus

JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO

Publicado em 19.08.2018

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