Visita Pastoral ao Rio Jauaperi – Novo Airão

Se tudo correu bem, hoje, devo estar na comunidade Deus me Deu, da paróquia de Novo Airão. Amanhã devemos retornar à cidade, depois de dez dias de visita pastoral ao Rio Jauaperi, parando em Novo Airão, Xixuaú, Samaúma, São Pedro, Itaquera, Gaspar, Palestina, Tanauaú e São Francisco do Castanhal. No ano passado fui até a comunidade do Tambor, dentro do Rio Jaú. Gosto de fazer estas viagens, de visitar as famílias, curtir a natureza. Desde o final da década de setenta visito comunidades ribeirinhas e posso dizer que estas visitas sempre foram senão a melhor, uma das melhores partes do meu ministério. Conheci homens e mulheres de poucas palavras, marcados por uma vida feita de provações no limite do suportável, mas que nunca perdem a fé em Deus, e vivem na companhia de seus santos com a intimidade de amigos que experimentaram as mesmas dores e que por isto os entendem e protegem das ciladas do inimigo.

As difíceis condições de vida criam uma solidariedade natural entre eles, e uma hospitalidade que nada deve a hospitalidade abraamica. Sempre ameaçados, no passado pelos patrões que tudo controlavam, hoje pelos credores, pela exploração de minérios, pelo tráfico que tem nos rios da Amazônia, corredores naturais onde escoar e esconder a droga. A grande maioria migra para a cidade, mas há os que resistem e permanecem. Alguns fazem questão de viverem isolados, longe de todos, mas uma grande parte vive em pequenas comunidades. São comunidades organizas com diretorias eleitas democraticamente. Algumas conseguem alcançar um alto grau de cooperação entre seus componentes. Todas querem ter uma escola e professores para seus filhos e isto é quase tudo que podem esperar das prefeituras. A sensação de que estão abandonadas e paradas no tempo é muito forte.

Qual o sentido destas visitas, que aparentemente não mudam nada? Uma primeira resposta é que são membros da Igreja da qual eu fui constituído pastor, e que devo visitá-las para que saibam que contam e são tão importantes como as que vivem próximas, nas cidades. Mais que isto, queremos partilhar com eles a graça dos sacramentos, sobretudo os da iniciação cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia. Hoje com a consciência que temos dos efeitos do desmatamento queremos aprender com eles a ciência do bem viver. Pode parecer que estas comunidades pertencem ao passado. De fato, já estão num futuro de sonho, quando a humanidade reencontrará o equilíbrio natural e a tecnologia de ponta nos ajudará a ter um desenvolvimento sustentável.

Não gosto de dizer que vou evangelizar, porque na maioria dos encontros eu é que sou evangelizado quando conheço pessoas que vivem para os outros e que partilham tudo o que tem, quando necessário, gente que tem uma fé que torna a presença e a ação de Deus no mundo, uma evidência a toda prova. Vou porque acredito que eles são os filhos prediletos do Pai e que aí está acontecendo a história da salvação. Finalmente, os visito porque permanecem católicos apesar do avanço pentecostal das últimas décadas. Muitos foram e são perseguidos pela sua fidelidade à Igreja. Na terça-feira quando encerrar a viagem já estarei pensando na próxima.

MATÉRIA DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 17.6.2018

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