Na quinta-feira a Igreja Católica percorreu as ruas do centro histórico levando no ostensório uma hóstia consagrada. Com cânticos de adoração entremeados por silêncios reverenciais expressou de forma eloquente a sua fé na presença real de Jesus no pão consagrado. Era a véspera da paixão quando Jesus reunido com os apóstolos na última ceia, para que a memória da cruz salvadora permanecesse para sempre, se ofereceu ao Pai como cordeiro sem mancha e foi aceito como sacrifício de perfeito louvor. Não podemos nos esquecer nunca o quanto custa a vida. Para que nós pudéssemos estar aqui hoje, quantos antes de nós abraçaram a cruz salvadora, quantos perderam a vida para que nós pudéssemos viver. A Eucaristia tornando presente o sacrifício da cruz não nos deixa esquecer o quanto custou a nossa salvação.
Na simplicidade do sinal, um pedaço de pão, Deus se entrega como alimento. Que nutre e santifica. Em primeiro lugar fazendo de todos um só coração. É pelo coração que começam as grandes transformações. Enquanto os corações estiverem endurecidos a realidade não muda. Adorar o Santíssimo Sacramento do altar é reconhecer que o poder de Deus é fraqueza para o mundo. A participação na Eucaristia ilumina os povos com a luz da mesma fé. Acreditar que Deus está presente num pedaço de pão é algo objetivo, concreto, material. É o melhor antídoto para os subjetivismos e relativismos de nossa cultura atual. A fé na Eucaristia nos iguala a todos. Diante da hóstia consagrada somos todos adoradores. Na adoração eucarística voltamos à simplicidade do presépio, onde Deus simplesmente está conosco e isto nos basta porque é uma presença amorosa.
Somos congregados na mesma caridade. E assim seremos sal e luz na Igreja e no mundo. A caridade é própria das vidas eucarísticas. Nas comunidades ribeirinhas, onde raramente se celebra uma missa, as pessoas não deixam de ter vida eucarística. A presença real no pão e vinho consagrados também está na Palavra proclamada e na assembleia reunida. Se é preciso ter um ministro ordenado para que se realize plenamente o sacramento, é também verdade que uma vez celebrado ele se prolonga nos sinais. Neste ano do laicato louvamos a Deus pelo Corpo de Cristo que é a Igreja. São principalmente os leigos e leigas que formam este corpo. Corpo que continua a sofrer as dores da Paixão na espera da revelação final. Corpo que se aproxima da mesa de tão grande mistério para encontrar a garantia da vida eterna.
Aproximemo-nos da Eucaristia para sermos sal da terra, recusando-nos a entrar no caminho da violência superando o desejo de vingança pelo perdão, não nos deixando corromper e nem corrompendo quando se trata do bem comum, acreditando no outro e não destruindo o seu bom nome. Seremos luz para o mundo se formos alegres e felizes na vivência da nossa fé, uma fé operante e transformadora. Quando iluminarmos a existência com a eternidade como limite do ser humano, cuja vida se abre para o mistério divino que se fez matéria, comida, doando-se totalmente para a sua criação. Diante de tal mistério só nos resta a fé. A fé que nada mais pergunta e adora em silêncio.
ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 03.06.2018