Meus irmãos, minhas irmãs,
Estamos reunidos para celebrar Pentecostes, celebrar a vinda do Espírito Santo e o fazemos como igreja. Igreja de Manaus, igreja de Jesus, é ele que nos congrega. É o seu amor por nós que nos reúne. Ele nos amou primeiro, mas nós também o amamos. Queremos testemunhar este amor que nos faz povo, o povo de Deus, o Corpo de Jesus no mundo.
De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formamos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito. Por isso somos irmãos e irmãs uns dos outros. Não nos escolhemos como irmãos, somos dom de Deus uns para com os outros.
Somos irmãos na força do Espírito. Como irmãos somos todos amados pelo Pai e somos fundamentalmente iguais. Em Jesus não há mais homem nem mulher, rico ou pobre, gente da terra e migrantes, lideranças e liderados, governantes e governados, sábios e ignorantes, clérigos e leigos, patrões e empregados, bispos e padres, religiosos e leigos.
Somos todos iguais em dignidade. O milagre de Pentecostes acontece quando isto se torna realidade visível e palpável. Nesta tarde vislumbramos esta realidade quando unimos nossas vozes num único canto, quando ouvimos todos em silêncio a mesma palavra, quando comungamos o mesmo corpo do Senhor.
Na liturgia vivemos na esperança daquilo que acreditamos. E como gostaríamos que a vida toda fosse assim. Como seria bom se não houvesse necessitados entre nós. Que nenhum irmão dormisse com fome, que todos tivessem moradia digna, que ninguém fosse expulso de sua terra, que todos tivessem acesso à assistência à saúde de qualidade.
Como seria bom se nossas crianças e nossos jovens não fossem mais abusados e não precisassem ter medo de nós adultos, se não existissem mais os mercadores da morte, os senhores do tráfico que semeiam a desgraça e a morte. Sonhamos com uma sociedade movida pelo Espírito de Deus. O Espírito da verdade vem para que seja edificado o Corpo de Jesus, por isso quem o recebe, recebe para fazer o bem aos outros.
Ele não vem criar mais separação, forjando uma elite espiritual e criando divisão entre quem tem o Espírito e quem não tem. Quem divide e quem separa é o maligno. E ele vem sempre travestido de bom e com argumentos que convencem, afirmando coisas do tipo: “a vida é assim mesmo”, “não tem nada porque são preguiçosos, não querem trabalhar”.
Às vezes os argumentos são sutis, às vezes tão grosseiros que não vale a pena lembrar. São todas ideias para justificar a opressão, o descaso, o preconceito. E, às vezes, vira blasfêmia quando se diz que uma situação de injustiça é vontade de Deus. A vontade Dele é que todos, sem exceção, sejam tratados com dignidade e respeito e que ninguém seja violentado. Toda violência é um atentado contra a vontade de Deus.
Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. O Espírito Santo é dado a Igreja, é ela que fala e entende todas as línguas. É ela que congrega povos e nações de toda a terra. É a Igreja que vai até os confins da terra e canta um canto novo, mas o espírito não anula as diferenças entre nós.
Unidade não é uniformidade. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. Comunhão verdadeira só pode existir entre pessoas que são sujeitos da sua própria história. Quando leigos e leigas assumirem de verdade a sua vocação de sal da terra e luz do mundo e da igreja, seremos uma igreja povo de Deus. Seremos uma igreja que dá testemunho da vida nova em Cristo. Uma igreja adulta e madura na fé que sabe dar ao mundo a razão de sua esperança.
O batismo que recebemos é um só. Fomos ungidos no mesmo espírito e participamos do mesmo corpo na Eucaristia. E antes de sermos cristãos somos humanos, e de cada homem e cada mulher podemos dizer que é carne de minha carne e osso dos meus ossos. O outro é mais que irmão, é uma parte de mim mesmo. Por isso, toda violência se volta contra o violento tornando-o menos humano.
Que a festa de hoje enchendo o nosso coração de verdadeira alegria nos anime a continuar vivendo a aventura da fraternidade, na família, na igreja, no nosso ambiente de trabalho ou estudo, na vida social, nas pastorais, na política.
Não tenham medo. Jesus mandou um defensor, que nos lembra toda a verdade que é esta que celebramos hoje: Na força do Espírito, todos irmãos e irmãs.
Dom Sergio Eduardo Castriani, Arcebispo Metropolitano de Manaus
– Homilia da Celebração de Pentecostes 2018