Artigo Em Tempo – Na força do Espírito

Chegando o dia de Pentecostes eles estavam reunidos com medo que lhes acontecesse o mesmo que com Jesus. Não era prudente arriscar-se saindo para fora. De repente veio do céu um ruído e eles ficaram cheios do Espírito Santo. Abriram as portas e corajosamente anunciaram que Jesus de Nazaré que fora crucificado havia sido constituído Messias e Senhor. Aqueles homens e mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia viravam a página da história se tornando um povo novo, uma nação e um reino diferente de tudo que se tinha visto até então. Eram irmãos e irmãs, tinham um só coração e uma só alma, e daí em diante não havia mais necessitados entre eles. A experiência foi tão forte que eles se sentiram salvos e redimidos dos pecados. Anunciar o nome de Jesus tornou-se um imperativo para eles. Geração após geração a boa nova vem sendo anunciada e multidões em todos os tempos e lugares tem se reunido na mesma fé pelo mesmo Espírito.

A Igreja de Manaus, suas comunidades, pastorais e movimentos, junto com seus diáconos, presbíteros e bispos, se reúne na tarde do domingo de Pentecostes. Este ano não será diferente. O povo que ali está é o nosso povo, a nossa gente. Um povo que está com medo da violência que parece se generalizar, um povo que está apreensivo com os rumos que o nosso país está tomando. A festa nos revigora e confirma a nossa esperança. Quando vemos a multidão reunida o nosso coração se aquece, por que vemos que não estamos sós. Somos muitos os que sonham o sonho de Jesus para a humanidade: sermos todos irmãos e irmãs uns dos outros. A celebração é um sinal que nos aponta para as verdadeiras realidades. Ali vivemos como gostaríamos de viver sempre. E neste dia celebramos a nossa unidade, que é dom.

Ser irmão e irmã não é uma escolha. Ninguém escolhe os irmãos que tem, eles nos são dados pela vida. Como na parábola do bom samaritano, o irmão é aquele que se faz próximo. Neste momento da história a Igreja de Manaus mais uma vez é chamada a se fazer próxima, ao acolher os migrantes venezuelanos que vem bater a nossa porta. É muito fácil ser irmão quando tudo vai bem, mas na hora do infortúnio não é bem assim que as coisas acontecem. A Igreja que já se faz próxima dos despejados de suas casas e de suas terras, dos moradores de rua, dos portadores do vírus HIV, dos usuários de drogas, das crianças e adolescentes de rua, através de suas pastorais, é chamada a acolher o estrangeiro e tratá-lo como hóspede.

Há mil razões para não tratarmos como irmãos os excluídos da sociedade. Abomina a razão ver num sofredor de rua alguém que é carne da minha carne. Reconhecer que aqueles que cometem delitos são meus semelhantes e que, no final das contas, somos iguais é impossível. Só o Espírito de Deus pode romper as barreiras e fazer-nos irmãos pois só existimos Nele e por Ele. Só Ele nos faz enxergar além das aparências. Quando isto acontece é o milagre de Pentecostes que se renova. O outro já não nos amedronta, falamos a mesma língua, louvamos o mesmo Pai. Oxalá se realize de novo Pentecostes entre nós. Precisamos urgentemente de um milagre do Espírito que nos faça mais humanos.

 

 

MATÉRIA DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus

JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO

Data de Publicação: 20.5.2018

 

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