A verdade

Falar de Verdade, é fazer referência a algo que nos transcende e está fora de nós. A verdade para a filosofia está no domínio da metafísica e para a teologia está na ordem da revelação. Para estas duas ciências, ela não depende do sujeito, mas deve ser procurada por ele. Ela então se torna objeto do conhecimento. Nosso conhecimento sempre será limitado e para os que acreditam, só quando contemplarmos Deus face a face, na visão beatifica conheceremos toda a verdade. Porque este é o nosso destino temos o dever moral de procurar a verdade. E só é possível a convivência entre nós se for baseada na verdade, e isto é a base da ética. O subjetivismo e o relativismo impossibilitam relações profundas porque solapam a base do diálogo. Acreditar que o outro está dizendo a verdade é necessário para que se estabeleça a comunicação entre as pessoas. Daí se deduz a gravidade do que se convencionou chamar de fake news, notícias falsas.

O problema é que elas vem com aparência de verdade. Aparentemente existem técnicas para produzi-las e há gente que é especialista nisso. Nós, simples mortais assistimos os efeitos, reputações destruídas, relações familiares destroçadas, alianças políticas desfeitas, guerras justificadas. Às vezes é uma mentira repetida muitas vezes que se torna verdade, outras vezes meias verdades são apresentadas como o óbvio. Toma-se a parte pelo todo, e a suspeita pela evidência. Com a rapidez e a abrangência que a internet possibilita hoje, essas notícias se espalham rapidamente. Como reagir? Ignorá-las? Dar resposta imediata ou esperar? Quem responde em nome de quem? Quando estas situações são criadas, a experiência tem demonstrado que conhecemos pouco os mecanismos, as causas e as consequências do fake. O fenômeno é novo e temos que conhecê-lo melhor.

Mas uma coisa é certa. Se quisermos ser construtores da paz temos que estar atentos. O primeiro cuidado é o de não disseminar a mentira que destrói, checando as fontes e tendo respeito pelas vidas afetadas pela divulgação de fatos constrangedores. É preciso que tenhamos um compromisso com a verdade. É por amor que nós narramos os acontecimentos. Amor ao ouvinte, telespectador e leitor, que eu quero que seja bem informado. Amor e respeito pelos envolvidos no evento, que pode levar ao silêncio, mas nunca à mentira. Numa sociedade onde se exige que tudo seja transparente, não podemos esquecer que as pessoas têm direito à privacidade.

A Verdade para os cristãos é uma pessoa. Jesus é a Verdade, e toda verdade está contida nele. Ele declara felizes os construtores da paz. Hoje, no Dia Mundial das Comunicações Sociais, o papa diz exatamente isto dos jornalistas, mostrando que estes têm um papel fundamental na manutenção e na construção da paz, sob a condição de que publiquem a verdade. Isto tem custado a vida de muitos deles, porque incomodam as forças da morte. Cada época tem seus mártires. Em tempos de comunicação global, são os profissionais da comunicação que estão na linha de frente. Nunca esqueçamos que a verdade nos fará livres. A mentira sempre destrói. Graças a Deus ela tem as pernas curtas.

MATÉRIA DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 13.05.2018

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