Nesta semana participei da posse do novo reitor da Universidade do Estado do Amazonas. A cerimônia desenrolou-se com toda a pompa que as circunstâncias exigiam. O clima era de festa e a presença do governador, era a de um ancião que contemplava sua descendência. Tive o privilégio de ver o nascimento da UEA. Sei o que ela significou para a juventude de nosso Estado. Acompanhei a alegria das primeiras turmas. Vi a autoestima dos professores ribeirinhos aumentar. Cidades onde a poucos anos nem segundo grau havia passaram a contar com cursos universitários. Quando começaram as cerimonias de colação de grau com toda a dignidade exigida, vi a alegria das famílias que assim adquiriam cidadania. Nos últimos dezessete anos esta tem sido uma revolução silenciosa da qual ainda não percebemos todos os efeitos. Ela é a prova de que o serviço público pode ser um serviço de qualidade.
A cerimônia foi todo o tempo conduzida por uma orquestra barroca que tocava Mozart. Talvez fosse mais apropriado que tivéssemos ali música regional, pois a Universidade tem cursos que formam professores indígenas e tem indígenas entre seus alunos. Mas como herdeira da grande tradição das universidades ela se apropria da cultura ocidental naquilo que ela tem de belo, e a música clássica barroca é sem dúvida um dos momentos de rara beleza que a humanidade atingiu. Da mesma forma a ciência é buscada diuturnamente nas salas de aula, nas teses de mestrado e doutorado, buscando sem nenhum complexo de inferioridade a excelência universitária no meio da floresta. O ensino, a pesquisa e a inserção social do saber tem que ser buscados por todos, professores, alunos e funcionários.
Estar na Amazônia e ser amazônica marca a nossa Instituição. Nossa, por que é pública e republicana. Nossa porque pelo sistema de quotas privilegia justamente os filhos da terra. Nossa porque nós a financiamos. Estar nesta região neste momento da histeria da humanidade é uma graça e um presente da vida. A maneira como resolvermos a grande questão do desenvolvimento sustentável é crucial para o futuro da própria humanidade. E aqui entra a pesquisa, ainda tão incipiente. Conhecemos tão pouco da nossa biodiversidade. Há muito a conhecer das culturas indígenas e seu relacionamento com a natureza. Existe um campo imenso de busca de integração do saber popular e do conhecimento científico.
Um outro aspecto da cerimônia foi que tivemos uma verdadeira aula prática do que é laicidade. A UEA é laica porque usa critérios baseados no mérito e na participação democrática para a contatração de seus professores e funcionários. É laica quando busca a excelência. Mas não é laicista e sabe que a religião é uma realidade. Os discursos do vice reitor e do reitor mostraram dois homens de fé, profundamente comprometidos com a coisa pública. Na maneira que citaram as Escrituras ficou claro que um segue a tradição católica dos lecionários e outro a tradição reformada. Nestes tempos em que os escândalos ocupam todo o espaço dos noticiários o evento foi uma Boa Nova que mostra que o Brasil tem jeito.
MATÉRIA DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 29.04.2018