Artigo de Dom Sergio Castriani publicado no Jornal Em Tempo do dia 1 de abril de 2018
Isto foi o que os seguidores de Jesus de Nazaré disseram dele três dias depois de sua trágica morte na cruz. A experiência foi se espalhando aos poucos. Primeiro algumas mulheres que foram de manhã ao local onde ele havia sido sepultado vieram dizer aos apóstolos que o corpo do Senhor não estava lá. Algumas até tinham tido pequenos diálogos com ele. Num destes Ele mandou dizer aos discípulos que os esperasse na Galileia. No primeiro dia da semana apareceu num lugar onde os apóstolos estavam reunidos a portas fechadas, com medo. Aquele grupo de galileus era fácil de ser reconhecido. Neste primeiro encontro Ele derramou o Espírito sobre o grupo e deu-lhes a nobre missão de perdoar, participando assim da missão e da vida de Jesus.
Uma das mais emblemática e belas aparições foi a que aconteceu a dois discípulos que depois de terem acreditado, foram surpreendidos pela crucificação daquele que tinha acendido nos seus corações a chama da esperança. A estes dois homens foi concedida a graça de verem o Filho do homem ressuscitado. Já no caminho que fizeram com ele, sentiram o coração arder. Mas, só reconheceram Jesus quando ele partiu o pão. Só a algumas horas antes Jesus havia instituído a Eucaristia, quando ao chegar à aldeia de Emaus ele repete o rito, e eles o reconhecem ao partir o pão. A alegria foi tamanha que eles partiram correndo para Jerusalém a fim de contar aos outros o que tinha acontecido. E de geração em geração esta História é contada e aqueles que acreditam que Jesus, o filho do carpinteiro de Nazaré, era de condição divina, assumiu a natureza humana e morreu crucificado em expiação das nossas culpas são redimidos dos seus pecados e salvos.
Isto tudo está nos evangelhos que foram escritos para que a tradição oral não se perdesse. Mas sem o testemunho vivo daqueles que acreditam as escrituras são uma coletânea de belas histórias que podem figurar nas mais exigentes resenhas literárias. Além do testemunho da vida nova dos que se encontraram com o ressuscitado o anúncio da ressurreição apresenta os argumentos escriturísticos. A luz da ressurreição compreendem-se as profecias que apontam para o Messias. Todo o primeiro Testamento é figura da Nova Aliança realizada em e por Jesus.
A festa da Páscoa pode ser vivida sem nenhuma referência a pessoa de Jesus. O fenômeno natural é a primeira lua cheia da primavera no hemisfério norte, onde a renovação da vida é mais evidente. O símbolo pascal por excelência é o ovo de páscoa. Feito de chocolate e recheado de bombons exala sensualidade e vida. O coelho que procria com facilidade manifesta a vontade de viver. Tudo isto pode e deve ser absorvido numa cultura cristã. Mas para os cristãos o mistério pascal, isto é, a morte e ressurreição de Jesus é fonte de vida nova e a única realidade que vai permanecer quando Deus for tudo em todos.
Se na ordem temporal há um distanciamento entre a cruz e a ressurreição, na ordem do ser elas se confundem. Na cruz está a glória de Jesus e o Cristo glorioso é o crucificado. Para quem não tem fé isto é um jogo de palavras bonito. Para quem acredita esta é a verdade que liberta.